Martinho Lutero
Sua Vida, Obra
e Principais Contribuições Para o Cristianismo
por Pr Paulo César Berberth Lima
Resumo
Martinho Lutero, em alemão "Martin
Luther", (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de
1546) foi um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico
que foi figura central da Reforma Protestante. Que ficando contra os conceitos
da Igreja Católica veementemente contestando a alegação de que a liberdade da
punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de
indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em retirar
seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta
de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo papa e a condenação como um
fora da lei pelo imperador do Sacro Império Romano.
Lutero ensinava que a salvação não se
conseguia com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela
graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador. Sua teologia
desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a
Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao
sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio
santo. Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados
luteranos.
Sua tradução da Bíblia para o alemão, fez
o livro mais acessível, causando um impacto gigantesco na Igreja e na cultura
alemã. Promoveu um desenvolvimento de uma versão padrão da língua alemã,
adicionando vários princípios à arte de traduzir, e influenciou a tradução para
o inglês da Bíblia do Rei James. Seus hinos influenciaram o desenvolvimento do
ato de cantar em igrejas. Seu casamento com Catarina Von Bora estabeleceu um
modelo para a prática do casamento clerical, permitindo o matrimônio de padres
protestantes.
Infância e Educação de Lutero
Lutero nasceu no dia 10 de novembro de
1483, em Eisleben, Alemanha.
Seus pais eram camponeses, viviam da extração mineira. Foi educado
com muita rigidez, os pais tinham, assim parece, uma religiosidade tradicional.
A formação escolar de Lutero ocorreu em três etapas. Ele
freqüentou de 1488-1497 à escola municipal de Mansfeld. Aí aprendeu os
rudimentos do latim, o canto, e com toda certeza, as expressões principais da
fé cristã: Os Dez Mandamentos, o Pai-nosso, a Ave-Maria, o Credo. Permaneceu
por apenas um ano (da primavera de 1497 à primavera de 1498) na escola latina
de Magdeburgo. Mais importantes foram os impulsos recebidos em Eisenach
(1498-1501). Aí freqüentou a “escola do trívio”, quer dizer uma escola que
ensinava as três disciplinas fundamentais da gramática, da retórica e da
dialética. Lutero teve em Eisenach várias amizades estabelecidas e elos
estreitos com certos mestres, como Trebônio e Wigand, não seriam mais rompidos.
Martinho Lutero
Em 1501 Lutero iniciou seus estudos
universitários em Erfurt, uma das principais universidades alemãs da época. A
Faculdade de Direito que seu pai o encaminhou era de boa reputação, como era
costumeiro, porém, Lutero começou estudando durante três anos na Faculdade de
Artes. Nesse ciclo, ele se formou nas disciplinas tradicionais: a gramática, a
dialética e a retórica, que constituíam o trívio; a geometria, a aritmética, a
música e a astronomia (quadrívio). Teve que participar também de cursos de
ética e de metafísica. De outra parte, não estava previsto um estudo
sistemático do grego e do hebraico. A familiaridade de Lutero com a lógica
aristotélica e seus conhecimentos da ética e da metafísica do mesmo Aristóteles
remontam ao estudo recebido durante esses anos. O ensino sobretudo era
influenciado pela corrente occanista, assim Bartolomeu Arnoldi de Usingen e
Jôdoco Trutvetter, que ensinaram a Lutero a filosofia, eram occamistas, na
linha de Gabriel Biel, ou seja, eles atenuavam as criticas feitas por Occam à
igreja institucional.
Lutero em 1502 tornou-se Bacharel, em
Janeiro de 1505 chegou ao grau de mestre. Quando se formava em artes, o
estudante empenhava-se ainda mais dois anos de estudo, durante esse período
prosseguia seus estudos numa das faculdades superiores: a medicina, a teologia,
ou o direito. Com 22 anos, em maio de 1505, em conformidade com o desejo de seu
pai, deu início aos estudos de direito.
O Monge
Lutero
Lutero explica numa de suas Conversações à mesa, de Julho de 1939 o
motivo pelo qual ingressou como monge. Referiu-se ao temporal que surpreendera
a 2 de Julho de 1505 perto de Stotternheim. Atemorizado por um raio que quase o
fumegara, sentiu sobremaneira o temor da morte e do Inferno, o jovem homem
exclamará: “Ajuda-me, Santa Ana, que me
tornarei monge”.[1] (Santa Ana era padroeira católica dos
mineiros)[2] Para desespero de seus pais, Lutero
manteve a promessa. De volta a Erfurt, em 17 de Julho de 1505, entrou para o mosteiro
dos agostinianos da cidade.
“Na mente de Lutero, Deus era representado como uma majestade
inacessível, de santidade e poder terríveis”.[3]
Preocupado com a salvação,
durante seu estudo, sempre vinha à mente a pergunta: "Como posso conseguir o amor e o perdão de Deus?" Diferente
de outros monges, sua decisão de entrar para o mosteiro era propriamente
religiosa.
Alguns autores destacam
igualmente a orientação do occamismo que Lutero pode conhecer desde o tempo de
seus estudos na Faculdade de Arte. Se essa corrente sublinhava, de um lado, a
soberania de Deus, oferecia também ao ser humano a possibilidade de ser aceito
por esse Deus.
Lutero entrou no mosteiro
como fiel filho da igreja, com o propósito de utilizar os meios de salvação que
a igreja lhe oferecia e dos quais o mais seguro lhe parecia ser a vida
monástica.
O Sacerdote Lutero – A celebração de sua primeira missa.
A maioria dos monges do
convento dos agostinianos de Erfurt era composta de sacerdotes. Essa via se
impôs também para a pessoa de Lutero. Além da confissão, o essencial das
atividades do sacerdote consistia evidentemente na celebração da missa. Lutero
preparou-se para tanto estudando o manual fundamental do fim da Idade Média: a Canonis Missae expositio de Gabriel
Biel.
A celebração da missa iria
suscitar uma questão dolorosa para Lutero, relacionada com uma crise interior.
É na eucaristia que se concentrava a presença de Cristo, a qual Lutero iria
experimentar com temor e tremor. Para
receber dignamente Cristo, era necessário preparar-se tão bem quanto possível,
em particular através de uma enumeração exaustiva dos pecados na confissão.
A 27 de Fevereiro de 1507,
foi consagrado diácono, e a 3 de Abril ordenado sacerdote. Em 2 de maio
celebrou sua primeira missa na presença de seu pai. Na parte central da
celebração, no momento do ofertório, Lutero foi tomado de uma angustia súbita,
o temor de Deus se apoderou dele ao pensar que estava oferecendo nada menos que
Jesus Cristo. “Quem é aquele com quem tu falas?”, teria dito para si mesmo,
segundo seu testemunho de 1540. E
acrescentou: “A partir desse momento lia missa com um intenso pavor.” Ao que
parece, tratou-se do temor de aproximar-se de maneira direita da majestade de
Deus. O prior ou o mestre de noviços teve que retê-lo junto ao altar, porque ele
ameaçava fugir.
As dificuldades
subsistiram no tempo a seguir. A celebração, mas também a comunhão, freqüentemente
causava problemas para Lutero. Incerto do perdão dos pecados, não se sentia
adequadamente preparado. No próprio instante em que devia aproximar-se do
altar, ocorria-lhe ainda recorrer aos serviços de um sacerdote para se
confessar. Sentia também o peso de uma imagem de Cristo esboçada essencialmente
como juiz.
“Lutero via a
Deus então como este lhe fora apresentado no lar, na escola e na Igreja: Deus é
juiz e exige méritos suficientes para que o homem possa subsistir diante do
Tribunal.”[4]
Lutero forçava seu
organismo a enfrentar limites prejudiciais à saúde. Ele era motivado por um
profundo senso de pecaminosidade e da inalterável majestade de Deus.
A crise Interior de Lutero
Lutero se martirizava com
oração, jejum e vigílias, o que parece caracterizar Lutero é a intensidade de
sua inquietude e o esforço de reflexão teológica que empreendeu para superar a
crise, que tinha por objetivo, o relacionamento entre o ser humano e Deus. O
encontro com Deus o aterrorizava, esse temor que se manifestava na idéia de que
o último dia estava próximo, exprimia-se pelo temor do inferno, Lutero não
podia mais ver outra coisa em Cristo do que o juiz.
Lutero usava o
confessionário constantemente e se preocupava pois temia ter esquecido algum
pecado, então ele voltava e confessava tudo outra vez e revia seus pensamentos,
não encontrava maneira alguma de confessá-lo e ser perdoado mediante o
sacramento da penitencia.
Era em vão que buscava
refugio nos “intermediários”, (a virgem e os santos), ao mesmo tempo se chocava
com os limites de uma espiritualidade e uma teologia. Seus exercícios ascéticos
e sua contrição não lhe davam nenhuma certeza, a questão ainda permanecia sem
resposta para ele, e mais ainda, a permanência do pecado o acuava levando-o ao
desespero, o pavor de não conseguir satisfazer a Deus, o Deus juiz.
Seu conselheiro espiritual
lhe recomendou que lesse as obras dos místicos, que diziam que bastava amar a
Deus, visto que tudo isto era uma conseqüência do amor. No inicio essa idéia
pareceu boa para Lutero, pois não precisava carregar o peso dos seus pecados,
mas não demorou muito para perceber que não era tão fácil amar a Deus, ora, se
Deus era como seus pais e mestres que haviam o surrado e julgado a vida toda,
como poderia ele amá-Lo? Lutero chegou até confessar que não amava a Deus, mas
que o odiava.
Não havia saída possível. Para
ser salvo era necessário confessar os pecados, no entanto começou a perceber
que quanto mais ele confessava, mais o pecado permanecia nele, seu pecado ia
além de sua confissão.
Wittenberg – 1508
Lutero completara 25 anos quando
Staupitz o nomeou professor em Willenberg, em 1508. A universidade era
nova e particularmente protegida pelo eleitor[5] da
Saxônia e pelo vigário dos agostinianos. Mesmo sendo professor, não deixou de
ser monge. Em Willenberg, hospedou-se no convento de sua ordem. No mesmo tempo
que ensinava Filosofia e Ciências Naturais, preparava-se em Teologia, estudando
línguas antigas.
Prestou exames em 1509 e foi aprovado,
recebendo o 1º grau em Teologia, o bacharelado bíblico, titulo que lhe conferia
licença de lecionar as Escrituras Sagradas. Mal havia começado, chamaram-no
para ser professor da Universidade de Erfurt. Ficou ali três semestres e depois
voltou para Wittenberg, porém por pouco tempo. Em 1511, Staupitz escolheu-o
para ir a Roma em companhia de outro monge a fim de submeter à consideração do
papa as questões pendentes entre alguns conventos agostinianos. Lutero
imaginava a “Santa” cidade de uma forma, contudo durou pouco a sua satisfação,
ficando decepcionado, segundo suas declarações, “horrorizado” com as atitudes
dos cardeais, bispos e sacerdotes.
Em 1512 obteve seu doutorado em
teologia. O que é certo é que quando se viu obrigado a preparar conferências
sobre a Bíblia, nosso monge começou a ver nela uma possível resposta para suas
angustias espirituais. Em 1513 começou a dar aulas sobre Salmos o qual os
interpretava cristologicamente. E assim, viu Cristo passando pelas angustias
semelhantes às que passava. Este foi o principio para sua grande descoberta.
A grande descoberta de Lutero veio
provavelmente em 1515, quando começou a dar conferências sobre a carta aos
Romanos, pois ele mesmo disse, depois, que foi no primeiro capitulo dessa carta
onde encontrou a resposta para as suas dificuldades. Essa resposta não veio tão
facilmente.
Sua descoberta foi precedida por uma
grande luta e amarga angustia, pois Romanos 1.17 começa dizendo que: “no evangelho a justiça de Deus se revela”.
Segundo esse texto, o evangelho é a revelação da justiça de Deus e era
precisamente a justiça de Deus que Lutero não podia tolerar. Se o evangelho
fosse a mensagem de que Deus não é justo, Lutero não teria tido problemas.
Porém este texto relaciona indissoluvelmente a justiça de Deus com o evangelho.
Lutero odiava a frase “a justiça de Deus” e esteve meditando dia e noite para
compreender a relação entre as duas partes do versículo que, começa afirmando que “no evangelho a justiça de Deus se
revela” e conclui dizendo que “o
justo viverá pela fé”.
A resposta foi surpreendente. A
“justiça de Deus” não se refere aqui, como pensa a teologia tradicional, ao
fato de que Deus castigue aos pecadores. Refere-se, sim, a que a “justiça” do
justo não é a obra sua, mas o dom de Deus. A “justiça de Deus” é a que tem quem
vive pela fé, não porque seja em si mesmo justo, ou porque cumpra as exigências
da justiça divina, mas porque cumpra as exigências da justiça divina, mas
porque Deus lhe dá esse dom. A justificação pela fé não quer dizer que a fé
seja uma obra mais sutil que as boas obras, e que Deus nos paga por essa obra,
quer dizer sim que, tanto pela fé com a justificação do pecador, são obras de
Deus, dom gratuito.
Lutero Compreendeu que a justiça de
Deus da qual nos fala o evangelho não é aquela do Deus juiz, mas é a aceitação
do ser humano pecador por Deus, a dádiva de Cristo concedida por Deus ao ser
humano. É unido a Cristo na fé que o ser humano poderá viver, quer dizer, subsistir
diante de Deus. O justo viverá pela fé. Ele é justo precisamente pela fé que
está assentada tão somente e unicamente em Deus e em tua grande misericórdia.[6]
Depois de ter comentado a Epístola aos
Romanos, Lutero passou no inverno de 1516-1517, à Epístola aos Gálatas, este
comentário não contém muitos elementos novos em relação ao precedente, contendo
como um todo algumas belas formulações sobre a fé descrita como união a Cristo.
Mas importante é o comentário consagrado a partir da Páscoa de 1517 à Epístola
aos Hebreus.
O destaque foi o acento colocado na
união da fé com Cristo, “o Cristo vive e age no crente[7]”.
Lutero retoma uma distinção agostiniana que já tinha utilizado nas suas obras
precedentes. O sofrimento e a elevação de Cristo são o sinal e a causa eficaz
da nova vida para os crentes. “É necessário que aquele que deseja imitar a
Cristo como um exemplo creia, desde o inicio, com uma fé firme que Cristo
sofreu e que morreu por ele, sendo assim sacramento”
A Venda de Indulgências
Em 1513, um novo papa ocupou o trono
da igreja de Roma, Leão X, o que figura entre os piores inimigos da verdade
bíblica. Desde o começo , Leão X juntava grandes toneladas de dinheiro, grande
parte era destinada para sustentar o luxo da corte papal. Não bastavam os lucros
que chegavam de toda parte do mundo. Principalmente nos anos de 1514 e 1516,
fez predicar uma indulgência plenária ou um indulto das penas impostas pela
igreja aos homens pelos seus pecados, em troca de uma determinada quantia em
dinheiro.
Quando se falava de indulgências, do
que se tratava? Rotineiramente eram entendidas como a remissão, pela Igreja, de
uma pena que tinha sido imposta ao penitente, depois que ele tinha confessado
sua falta e recebido a absolvição. Isso, por sua vez baseava-se na idéia de que
um ato pecador compreendia não apenas uma falta, mas também uma pena que o
pecador devia cumprir sobre a terra ou no purgatório.
A pratica das indulgências existia
desde o século XI. A princípio elas só abrangiam as penas impostas pela Igreja
aqui na vida terrena, posteriormente foram estendidas àquelas do purgatório,
abrangendo aí também aquelas que se referiam a pessoas já falecidas. Não se
tratava mais apenas de remissão das penas canônicas, mas também das penas
divinas decorrentes do pecado.
Se a atribuição das indulgências
estava a principio ligada a momentos particulares (por exemplo, ao fim das
cruzadas), ela veio tornar-se mais e mais freqüentes no final da Idade média,
atreladas especialmente às necessidades financeiras do papado. A indulgência
contra a qual Lutero iria se levantar tinha sido promulgada em 1506 e renovada
em 1517. As somas recolhidas estavam destinadas a financiar a construção da
basílica de São Pedro em Roma. Uma porcentagem cabia ao arcebispo Alberto de
Mogúncia, que organizava na Alemanha a venda das indulgências, empregando os
serviços de João Tetzel que dizia: “No
Momento em que o dinheiro entra na caixa, a alma sai do purgatório[8]”
Os escritores da época descrevem a
pompa que o comissário fazia sua entrada nas cidades. Enquanto todos os sinos
tocavam, padres, monges, doutores, estudantes e a população inteira, portando
bandeiras e velas, iam cantando ao encontro dele. O cortejo entrava na igreja
ao som do órgão. Diante do altar era colocada uma grande cruz vermelha, da qual
pendia uma bandeira com as armas papais e ao lado dela a caixa destinada a
receber dinheiro. As pregações diárias, os cânticos e as procissões ao redor da
cruz impressionavam o povo, que se apressava a aproveitar aquela oportunidade
incomparável de salvação. A confissão das multidões era feita às pressas, pois
o objetivo não era a conversão, mas sim, o dinheiro.
Tetzel persuadia a multidão dizendo:
“Santo
Estevão foi apedrejado, são Lourenço foi queimado, são Bartolomeu sofreu o mais
cruel dos suplícios” bradava Tetzel. ... “O que é sacrificar pequena quantia em
dinheiro em comparação com o sofrimento desses mártires? Vossos pais e antigos
estão gemendo nos tormentos do purgatório, e vós os podeis livrar com uma
pequena esmola. Vós, que tendes herdado os bens deles, não quereis fazer!”... “As
indulgências são o mais precioso e sublime dom de Deus. Vinde e vos darei as
cartas seladas, pelas quais os vossos pecados, até os que estaríeis tentados a
cometer no futuro, vos serão todos perdoados. Não trocaria os meus privilégios
pelos de são Pedro, porque salvei mais almas com as minhas indulgências do que
o apóstolo com os seus discursos”.[9]
Aquisição de uma indulgência custava 1
florim para o artesão e 25 florins para os reis, príncipes e bispos. O custo da
subsistência de uma pessoa importava em 1 florim para uma semana.
As 95 Teses de Lutero
Lutero inspirado por
vários motivos, particularmente a venda de indulgências, na noite antes do Dia
de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, afixou na porta da Igreja de
Wittenberg, suas 95 teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das
Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido
como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero
opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de
qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições
temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório.
Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos
cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas
ocasionalmente, por determinação sacerdotal.
Ninguém se apresentou em
Wittenberg para refutar as teses de Lutero. Tetzel bramia de raiva, insultando
e amaldiçoando Lutero do púlpito. Mandou acender uma grande fogueira, na qual
pretendia queimar todos os que se opusessem à venda de indulgências e depois
imprimiu teses nas quais colocava decisões dos papas acima das Sagradas
Escrituras. Por fim, ameaçou o doutor de Wittenberg com a excomunhão e com
castigos terríveis.
Apresentou-se em seguida
um adversário mais temível que Tetzel: Eck, professor da universidade e
Ingoltadt. Ele publicou, com outro título Obeliscos,
a refutação às teses de Lutero, com quem até então mantivera boas relações. O
tom do escrito era grosseiro, preconceituoso e carregado de rancor. Eck acusava
Lutero de ser hussita (Herege da Boêmia).
João Eck, denunciou Lutero
em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído da
Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o
parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.
Em 1518. Lutero escreveu
"Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as
indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não
alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes
se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista
popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de
1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.
Lutero é julgado como Herege
A 7 de agosto de 1518,
Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o
príncipe Frederico, o Sábio, que o protegia não porque estava convencido de
suas doutrinas, mas sim porque lhe pareceu que a justiça exigia um julgamento
correto. A principal preocupação de Frederico era ser um governante justo e
sábio. Lutero teve seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14
de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a
retratar-se de suas idéias, a menos que provasse onde estava errado, tendo
rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou
confirmado num debate em Leipzig com João Eck , entre 4 e 8 de julho de
1519. Que conseguiu vencer Lutero não por ser mais sábio, mas porque conseguiu
que Lutero declarasse o que ele queria, que era favor de um herege condenado a
morte.
A partir de então Lutero
declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos,
dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã
Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis
e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único
Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em
oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro
Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que
pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia
do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por
ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele
apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor. Lutero obteve grande
popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.
A Bula Exsurge Domine
Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana
expediu a bula Exsurge Domine, que
execrou 41 posições tiradas dos escritos de Lutero. Ela exigiu que ele se
retratasse publicamente em 60 dias, sob pena de ser excomungado. Lutero em 10
de Dezembro de 1520, queimou a bula em praça pública. Carlos V ,
Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública. A
Janeiro de 1521, Roma promulgou a bula Dect romanum pontificem, que excomungava Lutero e seus partidários.
A Dieta de Worms
Lutero compareceu a Dieta
de Worms, de 17 a
19 de abril de 1521. Foi levado diante do Imperador e vários dos principais
personagens do Império. Quem estava encarregado de interrogá-lo lhe apresentou
um montão de livros e lhe perguntou se os havia escrito. Depois de examiná-los,
Lutero confirmou que os havia escrito todos e vários outros que não estavam
ali. Então seu interlocutor lhe perguntou se continuava sustentando tudo o que
havia dito neles ou se estava disposto a retrata-se de algo. Este era um
momento difícil para Lutero, não tanto porque temia o poder imperial, mas
porque temia sobremaneira a Deus. Uma vez mais o monge temeu diante da
majestade divina e pediu um dia para considerar sua resposta.
No dia seguinte, Lutero recusou-se
a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus,
pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que
concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui
estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém" [10].
Ao queimar a bula papal, Lutero havia rompido definitivamente com Roma. E agora
em Worms, rompia com o Império. No dia 25
de maio de 1521, formalizou-se a excomunhão de Martinho Lutero.
Lutero em
Wartburg – A Tradução da Bíblia para o Alemão
Lutero tinha 21 dias para
passar em segurança para a Saxônia antes que a sentença fosse baixada. Ele foi
salvo da prisão e da morte pelo príncipe da Saxônia, o duque Frederico, cujos
domínios incluíam Wittenberg. O duque deu-lhe asilo em seu solitário castelo em
Wartburg, onde permaneceu cerca de 1 ano disfarçado de um fidalgo de menor
importância, de nome Junker George ou com o pseudônimo de “cavalheiro Jorge”.[11]
Neste período Lutero
escreveu várias obras, mas dentre elas, a mais importante foi a tradução da
Bíblia para a língua alemã. A Bíblia inteira foi traduzida, com a ajuda de Melanchthon
e outros. O novo Testamento ficou pronto cerca de dois (2) anos e o Antigo
Testamento demorou pouco mais de dez (10) anos. E a Bíblia foi publicada em
1532. Pela importância da obra, bem valia o tempo empregado nela, pois a Bíblia
de Lutero, além de dar um novo ímpeto ao Movimento Reformador, deu forma à
nacionalidade alemã e ao idioma, unificando os vários dialetos alemães, do que
resultou o moderno alemão.
Enquanto Lutero estava
exilado, vários de seus colaboradores se ocupam em continuar o trabalho
reformador em Wittenberg. Deles, os mais destacados foram Carlstadt e Felipe
Melanchthon, um jovem professor de grego, de temperamento muito diferente de
Lutero, porém convencido das opiniões de seu colega. Até então, a reforma que
Lutero tinha iniciado não havia tomado forma concreta na vida religiosa de
Wittenberg. Lutero era um homem tão temente a Deus que tinha vacilado em dar os
passos concretos que seguiam sua doutrina. Porém agora, na sua ausência, estes
passos foram dados rapidamente um após o outro.
Muitos monges e freiras
deixaram seus conventos e se casaram. O culto foi simplificado e começou-se a
usar o alemão ao invés do latim. Aboliram as missas pelos mortos. Cancelaram os
dias de jejum e abstinência. Melanchthon começou a oferecer a comunhão de ambos
os modos, isto é, deu o cálice aos leigos. Lutero respondeu a Melanchthon que
aprovava a distribuição do cálice aos fieis, contanto que cada um fosse livre
para tomá-lo ou para abster-se.
No princípio Lutero viu
tudo isso com agrado. Porém, logo começou ater dúvidas sobre o que estava
acontecendo em
Wittenberg. Quando Carlstadt e vários de seus seguidores se
dedicaram a derrubar imagens. Lutero lhes aconselhou moderação.
Alguns leigos começaram a
se levantar dizendo ser profetas, Melanchthon não sabia como responder a tais
pretensões, e pediu conselho a Lutero. Por fim ele dicidiu que o que estava em
jogo era nada menos que o evangelho e regressou a Wittenberg. Antes de dar esse
passo levou-o ao conhecimento de Frederico, o Sábio, porém deixando claramente
que não esperava sua proteção, mas que confiava unicamente em Deus, em cujo
serviço estava envolvido.
A Revolta dos Camponeses
Até 1523 continuou
lecionando na Universidade, inclinando-se, porém, para o lado dos místicos de
Zwickau e nutrindo-se dos escritos da Idade Média. De repente renunciou às
honras universitárias, retirou-se para o campo e depois para Orlamunde, onde
suas pregações atraíam multidões. Mandou saquear as igrejas, queimar os quadros
e quebrar os crucifixos e imagens. Misturando ultra-espiritualismo com a mais
vil corrupção, consentiu na poligamia, recusou A pagar impostos e restabeleceu
a lei de Moisés, incluindo-se o Jubileu: a cada cinqüenta anos, as propriedades
retornariam aos seus proprietários originais.
Os camponeses reunidos ao
povo da cidade aceitaram com entusiasmo as novas teorias, recusavam-se a pagar
os impostos e se revoltaram contra as autoridades. Os rebeldes saquearam o
castelo de Helfenstein e, ao som de musica, de cantos e risadas, assassinaram o
senhor do feudo na presença da mulher e do filho. Eles queimando, matando e
saqueando entraram triunfantes em Erfurt. Munzer ia à frente conclamando as
multidões à guerra santa e incitando-as ao roubo e à matança. Falava-se em três
mil camponeses prontos para a luta, e os príncipes não tinham exercito capaz de
resistir-lhes. Lutero não se poupou. Arriscando a vida, foi ao encontro dos
camponeses pregando a todos a paz e concórdia.
Frederico, o Sábio,
encontrava-se gravemente enfermo no castelo de Lochau e morreu no dia 5 de Maio
de 1525. O corpo foi solenemente conduzido a Wittenberg e deposita na matriz.
Lutero encarregou-se do serviço fúnebre e chorou a morte daquele príncipe
pacifico.
Quadrilhas de vândalos,
ladrões e assassinos continuavam a infestar o país. Lutero instigou os
príncipes e magistrados a procederem com rigor contra eles. A rebelião foi
controlada com a união dos príncipes saxões e baniram os oito mil homens
aliciados por Munzer, o qual foi preso e executado, demonstrando grande
covardia no momento da morte.
Muitos camponeses morreram[12],
e Lutero foi acusado tanto de fomentara revolta por seus escritos quanto de
instigar os príncipes a usar de severidade para com os vencidos camponeses.
Porém, se incitou as autoridades a reprimir a revolta, ao mesmo tempo lhe
suplicara que usassem de mansidão, não somente para com os inocentes, mas
também para com os culpados. Lutero permaneceu inflexível perante os ataques e
as calunias a ele dirigidos. Foi nessa época que decidiu dar um passo decisivo
para a afirmação de sua liberdade, embora significasse a renovação da ira dos
antigos adversários, os papistas: o casamento.
O Casamento de Lutero
Enquanto permaneceu em Wartburgo, Lutero
soube que alguns padres e monges, quebrando os votos, haviam-se casado. Sobre a
questão, declarou energicamente que não os imitaria. Contudo, depois disso,
assistiu ao casamento de colegas e amigos e até aconselhou alguns a seguir o
exemplo.
Somente no outono de 1524
Lutero substituiu o capuz de
monge pelo traje de doutor em teologia. No domingo d, 9 de Outubro de,
levantou-se como de costume, pôs de lado a batina de monge agostiniano e, vestido
de preto, apareceu no templo, onde a mudança provocou grande alegria. Na
primavera seguinte, veio-lhe o pensamento de se casar.
Um ano antes, algumas
religiosas fugidas de um convento haviam chegado a Wittenberg. Entre elas
achava-se Catarina von Bora, descendente de família nobre, mas empobrecida.
Havia sido enviada para o convento na mais tenra idade e recebida como
religiosa aos dezesseis anos. Quando
Lutero a pediu em casamento, estava com 26 anos e Lutero com 42 anos. Catarina
von Bora não era notável pela beleza nem por nenhum outro atrativo, mas era uma
verdadeira mulher, forte, corajosa,franca e fiel. Lutero encontro nela uma
auxiliadora dedicada que cuidou dele e o amparou em meio aos sofrimentos
físicos e morais.
No dia 13 de Junho de 1525,
Lutero casou-se com Catarina. A perplexidade foi geral quando tornou público, o
seu casamento, calunias não lhe foram poupadas. Muitos de seus partidários
achavam que eu líder havia perdido a dignidade. Melanchthon, seu intimo amigo,
por instante ficou fora de si, julgando o casamento de Lutero uma fraqueza
deplorável que traria prejuízo a sua obra e a sua autoridade no momento em que a Alemanha ,
mais do que nunca, necessitava dele.
Lutero porém, estava
convencido de que fora evado por Deus a dar esse passo decisivo. Lutero e
Catarina tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou
outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras
que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a
Igreja Romana.
Dieta de Augsburgo –
A Confissão de Angsburgo
O édito imperial que
convocava a Dieta em Augsburgo no ano de 1530 parecia oferecer uma esperança de
paz aos protestantes. Depois de anunciar que a sessão trataria dos erros e
divisões que afligiam a igreja, solicitava que cada um apresentasse seus
esclarecimentos com espírito de amor e de benevolência.
Todavia , o imperador de
modo nenhum pensava em colocar as duas confissões em pé de igualdade. Seu único
pensamento era evitar uma guerra interna. O legado do papa também se inclinava
a meios mais brandos. Por isso o eleitor cheio de esperança pediu a seus
teólogos que redigissem a confissão de sua fé para apresentá-la à Dieta.
Em Fevereiro de 1530,
Lutero e Melanchthon partiram de Wittenberg com o soberano, Espalatino e
Agrícola, este na função de pregador da corte. Demoraram-se em Weimar, onde o
eleitor comungou com os reformadores, e em Coburgo, onde esperaram a abertura
da Dieta.
Com a intenção de colocar
Lutero fora de perigo, levaram-no na noite do dia 22 para o dia 23 de Abril,
até a fortaleza que domina a cidade de Coburgo. O monge excomungado pelo papa e
considerado fora-da-lei pela Dieta não podia, nem com salvo conduto, comparecer
diante do imperador, do soberano pontífice ou da alta assembléia. Mas o eleitor
queria tê-lo o mais perto possível de Augsburgo para comunicar-se com ele
durante as sessões. No entanto, a distancia entre Augsburgo e Coburgo,
fronteira extrema do eleitorado, era de quatro dias.
O eleitor João chegou em
Augsburgo no dia 2 de Maio e, até 15 de Junho aguardou o imperador, que demorou
em Innsbruck com o duque Jorge e outros príncipes católicos. Nesse tempo
Melanchthon trabalhava com zelo dia após dia na redação da confissão de fé
reformada. Melanchthon, que iniciara o trabalho com Lutero , tomou como base
para a confissão de fé os artigos de Marburgo, esforçando-se para colocar em
evidência as relações existentes entre as duas religiões e atacando somente
alguns erros e abusos da Igreja Romana.
Na tarde de 11 de Junho,
Carlos V fez sua entrada na cidade de Augsburgo. Quando o núncio Campiego, de
cima de sua mula, abençoou a multidão em nome do papa, o imperador, os
príncipes e o povo se curvaram, somente os protestantes ficaram em pé, não
quiseram se juntar ao promposo séquito. O margrave
de Brandeburgo disse ao imperador: “Querem
que tomemos parte nessa procissão. Mas Jesus Cristo não ordenou essas coisas. É
impossível obedecermos a essa ordem. Antes de renegar ao nome de Deus,
larçar-me-ia aos pés de vossa majestade e deixaria que me cortassem a cabeça[13]”.
Melanchthon ficou muito aflito coma as ameaças dos adversários. Temia o efeito
que produziria a confissão de fé.
O dia 25 de Junho de 1530
é o mais importante da Reforma e um dos mais belos da historia do cristianismo
e da humanidade. A Dieta reuniu-se. e Carlos V tomou lugar ao trono. Então o
eleitor da Saxônia, seu filho João Frederico, Filipe, o landgrave de Hesse, o margrave
de Brandeburgo, o duque de Brunswick, o príncipe de Anhalt e os depultados das
cidades de Nuremberg e de Reutlingen levantaram-se e apresentaram a Confissão de fé protestante.
Fez-se a leitura em voz
alta e em alemão, apesar dos esforços do imperador para impedi-la. Todas as
doutrinas da Reforma estavam contidas na Confissão
de Augsburgo e expressas de modo que não ferissem violentamente os
adversários, aos quais antes se desejava convencer.
Depois de terem confessado
a sua fé, os protestantes preparavam-se para deixar Augsburgo. Foram, porém,
obrigados a retardar a partida, porque o imperador havia pedido a zelosos
católicos uma refutação da confissão de fé. Cochleus e Eck, o antigo e forte
adversário de Lutero, encarregaram-se dessa defesa. Melanchthon passou pelas
horas mais sombrias e nefastas de sua carreira. Desejando a paz acima de tudo, esforçou-se
em representar os protestantes prontos a aceitar o ensino da Igreja Romana e
dispostos a fazer concessões no tocante ao culto e à hierarquia eclesiástica.
Lutero não podia admitir,
como fazia Melanchthon, a união de doutrinas com os católicos, mas esperava que
s e chegasse a um arranjo político, sob cuja sombra as duas confissões pudessem
viver pacificamente no Império.
A refutação católica foi
apresentada à Dieta no dia 3 de Agosto, e Carlos V determinou que a minoria
protestante devia aceitá-la e dar-se por vencida. O Filipe, em resposta a esse
decreto, deixou Augsburgo subitamente, sem autorização do imperador, e
retirou-se para os seus domínios a fim de preparar-se para responder à força,
se necessário fosse. O imperador que não esperava tal impacto, nomeou uma
comissão para discutir as duas confissões. Melanchthon foi o único elemento
protestante a participar.
Não obstante a demoradas
comunicações com Coburgo e a rapidez com que Carlos V fazia trabalhar a
comissão, o eleitor reclamava constantemente o conselho de Lutero. Tratava-se
de decidir até onde deviam ir os protestantes nas suas concessões aos
adversários. Quanto aos católicos, a diferença de doutrina não era para eles o
mais importante, e sim o restabelecimento da missa, do sacramento da eucaristia
e do direito dos bispos. Melanchthon estava disposto a restabelecer o culto
católico e submeter-se à autoridade dos bispos até o próximo concílio. Os
chefes protestantes e deputados das cidades, assustados com a fraqueza de
Melanchthon e suas concessões, encarregaram um amigo de Lutero de prevenir o
reformador, dizendo que Lutero refrear Melanchthon que estava fazendo mal ao
evangelho.
Lutero escreveu ao amigo
com gravidade. Era impossível conservar a missa, que contém o dogma
inadmissível do sacrifício constantemente repetido do Filho de Deus, sem
transformar-lhe inteiramente em liturgia. Quanto aos bispos, se lhes fosse dado
o poder, acabaria a livre pregação do evangelho. Além do mais estava convencido
da inutilidade das tentativas de conciliação. Em vão se procuraria estabelecer
acordo entre o papa e Lutero. Ao para não importava entrar em acordo, e Lutero
recusava qualquer ajuste.
O perigo a que
Melanchthon, por suas concessões, havia exposto a Reforma foi afastado graças à
crescentes exigências dos católicos. Nem mesmo Melanchthon pôde aceitá-las, e
os estados protestantes mantiveram o protesto contra as decisões da Dieta de
1526.
Carlos V, temia uma guerra
civil e não havia encontrado nos príncipes católicos providências suficientes
contra a heresia, adiou as medidas repressivas contra os hereges. No discurso
de encerramento da Dieta, exprimiu seu descontentamento por ver os protestantes
perseverarem nos seus erros e concedeu-lhes tempo, até 15 de Abril seguinte ,
para retornarem ao seio da Igreja Romana. Os príncipes e os deputados das cidades protestaram contra o decreto, mas
aceitaram o prazo que lhes era oferecido. Até então a paz política ficava
assegurada.
A paz religiosa, enfim foi
assinada em Nuremberg, no dia 23 de Julho de 1532, e ratificada pelo imperador.
Os dois partidos obrigaram-se a suportar-se mutuamente e a viver juntos de
maneira cristã até o concilio seguinte. No dia 16 de Agosto o eleitor morreu. A
paz, com tanto ardor desejada por Lutero para o seu povo e igreja, foi finalmente
selada. Regozijou-se dela como de uma graça providencial. A paz durou todo o
resto de sua vida.
Enfermidade e Morte.
Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas
de saúde. Com freqüência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era
capaz de trabalhar tenazmente. No domingo, 14 de Fevereiro, pregou pela ultima
vez.
“Fechemos os olhos a toda
sabedoria humana”, conclamou. “Liguemo-nos à Palavra de Deus. Vamos a Deus,
porque ele nos chama, e digamos-lhe: ‘És meu Senhor, meu Mestre, e eu sou teu
discípulo[14]’”.
Era quinta-feira, 18 de
fevereiro de 1546, entre duas e três horas da madrugada em Eislebem, Lutero
veio a falecer com 62 anos. Antes de adormecer, Lutero citava várias vezes
trechos da Bíblia como o de João 3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu seu único filho, para que todo aquele que nele crer não pereça mas
tenha a vida eterna”. E em latim dizia
“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me resgataste, Deus Fiel”
Outras Obras
Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismo,
que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que
decidiram abandonar a Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.
Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de
Augsburg, que sumaria a fé luterana em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João
Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de Schmalkald, que resumem seus
ensinamentos.
A Teologia de Lutero
Como monge agostiniano, Lutero dava preferência a certos estudos,
dentre os quais se destacam a soberania de Deus, dando uma abordagem mais
bíblica às questões religiosas e às doutrinas cristãs. Alguns pontos defendidos
por Lutero são :
- Nem
o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um
pecador.
- A
culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências.
- Somente
um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo,
o que depende única e exclusivamente de Cristo.
- Só
há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo.
- Não
há autoridade especial no papa.
- A
Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão.
- A
justificação é somente pela fé.
- A
soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano.
- Defendia
a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação.
- Há
apenas dois sacramentos : o batismo e a ceia do Senhor.
- Opunha-se
a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da
missa e das penitências e ao uso de relíquias.
- Contrário
ao celibato clerical.
- Defendia
a separação entre igreja e estado.
- Ensinava
a total depravação da natureza humana.
- Defendia
o batismo infantil e a comunhão fechada.
- Defendia
a educação dos fiéis em escolas paroquianas.
- Repudiava a hierarquia eclesiástica.
Cronologia da Vida de Lutero[15]
1483,
10 de Novembro: nascimento de Lutero em Eisleben.
1484,
Verão: mudança da família de Lutero para Mansfeld.
1497,
Escolarização em Magdeburg.
1498,
Escolarização em Eisenach.
1501,
Maio: estudos em Erfurt
1505,
17 de Julho: entrada de Lutero no convento dos agostinianos de Erfurt.
1507,
2 de Maio: primeira missa.
1508,
Inverno: encarregado do curso em Wittenberg.
1509,
Outubro: retorno a Erfurt.
1510,
Novembro: viagem a Roma.
1512,
19 de Outubro: doutor em Teologia em Wittenberg.
1513,
1518: Curso sobre os Salmos, as epistolas aos Romanos, Gálatas, Hebreus.
1517,
31 de Outubro: as 95 Teses.
1518,
26 de Abril: Debate de Heidelberg.
Julho: Lutero é atacado por Priérias.
7 de Agosto: Lutero é Convocado a
Roma.
8 de Agosto: Apelo de Lutero ao
príncipe-eleitor Frederico, o Sábio.
31 de Agosto: Lutero responde a
Priérias.
12–14 de Outubro: entrevista com
Caetano
28 de Novembro: Apelo a um concilio
geral.
1519,
4–6 de Janeiro: Conversão entre Lutero e Militz.
28 de Junho: Carlos V torna-se
Imperador em Lugar de Maximiliano
I , falecido.
7-14 Julho: Debate de Leipzig entre
Lutero e Eck.
1520:
Os grandes escritos reformadores:
Das boas obras.
À nobreza cristã da nação alemã,
acerca da melhoria do estamento cristão.
Do cativeiro babilônico da igreja.
Tratado acerca da liberdade cristã.
15 de Junho: Bula papal Exsurge Domine com ameaça de excomunhão.
10 de Dezembro: Lutero queima a bula
papal e o direito canônico.
1521,
Janeiro: Bula Decet Romanum Pontificem
excomunga Lutero.
6 de Março: Lutero é convidado a
Worms.
16-18 de Abril: Lutero na Dieta de
Worms.
26 de Maio: Promulgação do Edito de
Worms que coloca Lutero como proscrito do Império.
Maio de 1521 a Março de 1522: Lutero
no Wartburgo. Tradução do Novo Testamento.
1522,
Setembro: Publicação da tradução do Novo Testamento feita por Lutero.
1523,
Maio: Da autoridade secular.
1524,
Janeiro-Fevereiro: Aos magistrados de todas as cidades alemãs.
Setembro: Erasmo escreve Do
livre-arbítrio.
1525,
Janeiro: Contra os profetas celestes.
Abril – Maio: Guerrra dos
Camponeses.
13 de Junho: Casamento de Lutero com
Catarina von Bora.
Por volta do Natal: Missa alemã.
Dezembro: Do servo-arbítrio (Da
vontade cativa).
1526,
Junho – Agosto: A Dieta de Espira suspende a aplicação do Edito de Worms.
1527,
Abril: A firmeza inabalável das palavras “Isto é o meu corpo”. Controvérsia com
Zwinglio.
Verão: Enfermidade, depressões de
Lutero.
1528,
22 de Março: Instrução para os visitadores.
28 de Março: A Ceia de Cristo.
1529,
19 de Abril: Protestação dos territórios evangélicos na Dieta de Espira.
1 – 4 de Outubro: Conversação de
Marburgo
Catecismos de Lutero.
1530,
Dieta de Augsburgo em que é apresentada (25 de Junho) a Confissão de Angsburgo
1534,
Fim da tradução da Bíblia.
1536,
Concórdia de Wittenberg.
1539,
Bigamia do landgrave do Hesse.
1543,
4 de Janeiro: Publicação do comentário sobre Gênesis (cursos de 1535-45)
1546,
18 de Fevereiro: Morte de Lutero em Eisleben
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[1] LIENHARD, Marc. Martim Lutero. Trad. Walter Altmann e Roberto H. Pich. Rio
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[2] SHELLEY, Bruce L,
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Paulo: Editora Shedd Publicações, 2004, p 266.
[3] SAUSSURE, A. de. Lutero. Trad. Anna Huber. São Paulo:
Editora Vida, 2004, p 13.
[4] STTOHL, Henri. O Pensamento da Reforma. Trad. Aharon Saosezian. 2º Ed. São Paulo: Editora Aste, 2004, p. 27
[5] SAUSSURE, op. cit. p. 27 – “Eleitor” era
o príncipe ou bispo com direito a eleger o imperador, na antiga Alemanha.
[10] GONZALEZ,
Justo L. A era dos Reformadores, E
até os confins da Terra: Uma história Ilustrada do Cristianismo Vol.6. Trad.
Itamar N. de Sousa. São Paulo: Editora Vida Nova, 1995, p. 64.
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