Martinho Lutero


Martinho Lutero
Sua Vida, Obra e Principais Contribuições Para o Cristianismo
 por Pr Paulo César Berberth Lima
  
Resumo

Martinho Lutero, em alemão "Martin Luther", (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi um sacerdote católico agostiniano e professor de teologia germânico que foi figura central da Reforma Protestante. Que ficando contra os conceitos da Igreja Católica veementemente contestando a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada, confrontou o vendedor de indulgências Johann Tetzel com suas 95 Teses em 1517. Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo papa e a condenação como um fora da lei pelo imperador do Sacro Império Romano.

Lutero ensinava que a salvação não se conseguia com boas ações, mas é um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça, através da fé em Jesus como único redentor do pecador. Sua teologia desafiou a autoridade papal na Igreja Católica Romana, pois ele ensinava que a Bíblia é a única fonte de conhecimento divinamente revelada e opôs-se ao sacerdotalismo, por considerar todos os cristãos batizados como um sacerdócio santo. Aqueles que se identificavam com os ensinamentos de Lutero eram chamados luteranos.

Sua tradução da Bíblia para o alemão, fez o livro mais acessível, causando um impacto gigantesco na Igreja e na cultura alemã. Promoveu um desenvolvimento de uma versão padrão da língua alemã, adicionando vários princípios à arte de traduzir, e influenciou a tradução para o inglês da Bíblia do Rei James. Seus hinos influenciaram o desenvolvimento do ato de cantar em igrejas. Seu casamento com Catarina Von Bora estabeleceu um modelo para a prática do casamento clerical, permitindo o matrimônio de padres protestantes.


  



Infância e Educação de Lutero

                                   
Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Seus pais eram camponeses, viviam da extração mineira. Foi educado com muita rigidez, os pais tinham, assim parece, uma religiosidade tradicional.

A formação escolar de Lutero ocorreu em três etapas. Ele freqüentou de 1488-1497 à escola municipal de Mansfeld. Aí aprendeu os rudimentos do latim, o canto, e com toda certeza, as expressões principais da fé cristã: Os Dez Mandamentos, o Pai-nosso, a Ave-Maria, o Credo. Permaneceu por apenas um ano (da primavera de 1497 à primavera de 1498) na escola latina de Magdeburgo. Mais importantes foram os impulsos recebidos em Eisenach (1498-1501). Aí freqüentou a “escola do trívio”, quer dizer uma escola que ensinava as três disciplinas fundamentais da gramática, da retórica e da dialética. Lutero teve em Eisenach várias amizades estabelecidas e elos estreitos com certos mestres, como Trebônio e Wigand, não seriam mais rompidos.

Martinho Lutero

Em 1501 Lutero iniciou seus estudos universitários em Erfurt, uma das principais universidades alemãs da época. A Faculdade de Direito que seu pai o encaminhou era de boa reputação, como era costumeiro, porém, Lutero começou estudando durante três anos na Faculdade de Artes. Nesse ciclo, ele se formou nas disciplinas tradicionais: a gramática, a dialética e a retórica, que constituíam o trívio; a geometria, a aritmética, a música e a astronomia (quadrívio). Teve que participar também de cursos de ética e de metafísica. De outra parte, não estava previsto um estudo sistemático do grego e do hebraico. A familiaridade de Lutero com a lógica aristotélica e seus conhecimentos da ética e da metafísica do mesmo Aristóteles remontam ao estudo recebido durante esses anos. O ensino sobretudo era influenciado pela corrente occanista, assim Bartolomeu Arnoldi de Usingen e Jôdoco Trutvetter, que ensinaram a Lutero a filosofia, eram occamistas, na linha de Gabriel Biel, ou seja, eles atenuavam as criticas feitas por Occam à igreja institucional.

Lutero em 1502 tornou-se Bacharel, em Janeiro de 1505 chegou ao grau de mestre. Quando se formava em artes, o estudante empenhava-se ainda mais dois anos de estudo, durante esse período prosseguia seus estudos numa das faculdades superiores: a medicina, a teologia, ou o direito. Com 22 anos, em maio de 1505, em conformidade com o desejo de seu pai, deu início aos estudos de direito.

O Monge Lutero


Lutero explica numa de suas Conversações à mesa, de Julho de 1939 o motivo pelo qual ingressou como monge. Referiu-se ao temporal que surpreendera a 2 de Julho de 1505 perto de Stotternheim. Atemorizado por um raio que quase o fumegara, sentiu sobremaneira o temor da morte e do Inferno, o jovem homem exclamará: “Ajuda-me, Santa Ana, que me tornarei monge”.[1] (Santa Ana era padroeira católica dos mineiros)[2] Para desespero de seus pais, Lutero manteve a promessa. De volta a Erfurt, em 17 de Julho de 1505, entrou para o mosteiro dos agostinianos da cidade.

“Na mente de Lutero, Deus era representado como uma majestade inacessível, de santidade e poder terríveis”.[3]

Preocupado com a salvação, durante seu estudo, sempre vinha à mente a pergunta: "Como posso conseguir o amor e o perdão de Deus?" Diferente de outros monges, sua decisão de entrar para o mosteiro era propriamente religiosa. 

Alguns autores destacam igualmente a orientação do occamismo que Lutero pode conhecer desde o tempo de seus estudos na Faculdade de Arte. Se essa corrente sublinhava, de um lado, a soberania de Deus, oferecia também ao ser humano a possibilidade de ser aceito por esse Deus.

Lutero entrou no mosteiro como fiel filho da igreja, com o propósito de utilizar os meios de salvação que a igreja lhe oferecia e dos quais o mais seguro lhe parecia ser a vida monástica.

O Sacerdote Lutero – A celebração de sua primeira missa.


A maioria dos monges do convento dos agostinianos de Erfurt era composta de sacerdotes. Essa via se impôs também para a pessoa de Lutero. Além da confissão, o essencial das atividades do sacerdote consistia evidentemente na celebração da missa. Lutero preparou-se para tanto estudando o manual fundamental do fim da Idade Média: a Canonis Missae expositio de Gabriel Biel.

A celebração da missa iria suscitar uma questão dolorosa para Lutero, relacionada com uma crise interior. É na eucaristia que se concentrava a presença de Cristo, a qual Lutero iria experimentar com temor e tremor.  Para receber dignamente Cristo, era necessário preparar-se tão bem quanto possível, em particular através de uma enumeração exaustiva dos pecados na confissão.

A 27 de Fevereiro de 1507, foi consagrado diácono, e a 3 de Abril ordenado sacerdote. Em 2 de maio celebrou sua primeira missa na presença de seu pai. Na parte central da celebração, no momento do ofertório, Lutero foi tomado de uma angustia súbita, o temor de Deus se apoderou dele ao pensar que estava oferecendo nada menos que Jesus Cristo. “Quem é aquele com quem tu falas?”, teria dito para si mesmo, segundo seu testemunho de 1540.  E acrescentou: “A partir desse momento lia missa com um intenso pavor.” Ao que parece, tratou-se do temor de aproximar-se de maneira direita da majestade de Deus. O prior ou o mestre de noviços teve que retê-lo junto ao altar, porque ele ameaçava fugir.

As dificuldades subsistiram no tempo a seguir. A celebração, mas também a comunhão, freqüentemente causava problemas para Lutero. Incerto do perdão dos pecados, não se sentia adequadamente preparado. No próprio instante em que devia aproximar-se do altar, ocorria-lhe ainda recorrer aos serviços de um sacerdote para se confessar. Sentia também o peso de uma imagem de Cristo esboçada essencialmente como juiz.

“Lutero via a Deus então como este lhe fora apresentado no lar, na escola e na Igreja: Deus é juiz e exige méritos suficientes para que o homem possa subsistir diante do Tribunal.”[4]

Lutero forçava seu organismo a enfrentar limites prejudiciais à saúde. Ele era motivado por um profundo senso de pecaminosidade e da inalterável majestade de Deus.

A crise Interior de Lutero


Lutero se martirizava com oração, jejum e vigílias, o que parece caracterizar Lutero é a intensidade de sua inquietude e o esforço de reflexão teológica que empreendeu para superar a crise, que tinha por objetivo, o relacionamento entre o ser humano e Deus. O encontro com Deus o aterrorizava, esse temor que se manifestava na idéia de que o último dia estava próximo, exprimia-se pelo temor do inferno, Lutero não podia mais ver outra coisa em Cristo do que o juiz. 

Lutero usava o confessionário constantemente e se preocupava pois temia ter esquecido algum pecado, então ele voltava e confessava tudo outra vez e revia seus pensamentos, não encontrava maneira alguma de confessá-lo e ser perdoado mediante o sacramento da penitencia.

Era em vão que buscava refugio nos “intermediários”, (a virgem e os santos), ao mesmo tempo se chocava com os limites de uma espiritualidade e uma teologia. Seus exercícios ascéticos e sua contrição não lhe davam nenhuma certeza, a questão ainda permanecia sem resposta para ele, e mais ainda, a permanência do pecado o acuava levando-o ao desespero, o pavor de não conseguir satisfazer a Deus, o Deus juiz.

Seu conselheiro espiritual lhe recomendou que lesse as obras dos místicos, que diziam que bastava amar a Deus, visto que tudo isto era uma conseqüência do amor. No inicio essa idéia pareceu boa para Lutero, pois não precisava carregar o peso dos seus pecados, mas não demorou muito para perceber que não era tão fácil amar a Deus, ora, se Deus era como seus pais e mestres que haviam o surrado e julgado a vida toda, como poderia ele amá-Lo? Lutero chegou até confessar que não amava a Deus, mas que o odiava.

Não havia saída possível. Para ser salvo era necessário confessar os pecados, no entanto começou a perceber que quanto mais ele confessava, mais o pecado permanecia nele, seu pecado ia além de sua confissão.

Wittenberg – 1508


Lutero completara 25 anos quando Staupitz o nomeou professor em Willenberg, em 1508. A universidade era nova e particularmente protegida pelo eleitor[5] da Saxônia e pelo vigário dos agostinianos. Mesmo sendo professor, não deixou de ser monge. Em Willenberg, hospedou-se no convento de sua ordem. No mesmo tempo que ensinava Filosofia e Ciências Naturais, preparava-se em Teologia, estudando línguas antigas.

Prestou exames em 1509 e foi aprovado, recebendo o 1º grau em Teologia, o bacharelado bíblico, titulo que lhe conferia licença de lecionar as Escrituras Sagradas. Mal havia começado, chamaram-no para ser professor da Universidade de Erfurt. Ficou ali três semestres e depois voltou para Wittenberg, porém por pouco tempo. Em 1511, Staupitz escolheu-o para ir a Roma em companhia de outro monge a fim de submeter à consideração do papa as questões pendentes entre alguns conventos agostinianos. Lutero imaginava a “Santa” cidade de uma forma, contudo durou pouco a sua satisfação, ficando decepcionado, segundo suas declarações, “horrorizado” com as atitudes dos cardeais, bispos e sacerdotes. 

Em 1512 obteve seu doutorado em teologia. O que é certo é que quando se viu obrigado a preparar conferências sobre a Bíblia, nosso monge começou a ver nela uma possível resposta para suas angustias espirituais. Em 1513 começou a dar aulas sobre Salmos o qual os interpretava cristologicamente. E assim, viu Cristo passando pelas angustias semelhantes às que passava. Este foi o principio para sua grande descoberta.

A grande descoberta de Lutero veio provavelmente em 1515, quando começou a dar conferências sobre a carta aos Romanos, pois ele mesmo disse, depois, que foi no primeiro capitulo dessa carta onde encontrou a resposta para as suas dificuldades. Essa resposta não veio tão facilmente.

Sua descoberta foi precedida por uma grande luta e amarga angustia, pois Romanos 1.17 começa dizendo que: “no evangelho a justiça de Deus se revela”. Segundo esse texto, o evangelho é a revelação da justiça de Deus e era precisamente a justiça de Deus que Lutero não podia tolerar. Se o evangelho fosse a mensagem de que Deus não é justo, Lutero não teria tido problemas. Porém este texto relaciona indissoluvelmente a justiça de Deus com o evangelho. Lutero odiava a frase “a justiça de Deus” e esteve meditando dia e noite para compreender a relação entre as duas partes do versículo que, começa afirmando que “no evangelho a justiça de Deus se revela” e conclui dizendo que “o justo viverá pela fé”.

A resposta foi surpreendente. A “justiça de Deus” não se refere aqui, como pensa a teologia tradicional, ao fato de que Deus castigue aos pecadores. Refere-se, sim, a que a “justiça” do justo não é a obra sua, mas o dom de Deus. A “justiça de Deus” é a que tem quem vive pela fé, não porque seja em si mesmo justo, ou porque cumpra as exigências da justiça divina, mas porque cumpra as exigências da justiça divina, mas porque Deus lhe dá esse dom. A justificação pela fé não quer dizer que a fé seja uma obra mais sutil que as boas obras, e que Deus nos paga por essa obra, quer dizer sim que, tanto pela fé com a justificação do pecador, são obras de Deus, dom gratuito.

Lutero Compreendeu que a justiça de Deus da qual nos fala o evangelho não é aquela do Deus juiz, mas é a aceitação do ser humano pecador por Deus, a dádiva de Cristo concedida por Deus ao ser humano. É unido a Cristo na fé que o ser humano poderá viver, quer dizer, subsistir diante de Deus. O justo viverá pela fé. Ele é justo precisamente pela fé que está assentada tão somente e unicamente em Deus e em tua grande misericórdia.[6]

Depois de ter comentado a Epístola aos Romanos, Lutero passou no inverno de 1516-1517, à Epístola aos Gálatas, este comentário não contém muitos elementos novos em relação ao precedente, contendo como um todo algumas belas formulações sobre a fé descrita como união a Cristo. Mas importante é o comentário consagrado a partir da Páscoa de 1517 à Epístola aos Hebreus.

O destaque foi o acento colocado na união da fé com Cristo, “o Cristo vive e age no crente[7]”. Lutero retoma uma distinção agostiniana que já tinha utilizado nas suas obras precedentes. O sofrimento e a elevação de Cristo são o sinal e a causa eficaz da nova vida para os crentes. “É necessário que aquele que deseja imitar a Cristo como um exemplo creia, desde o inicio, com uma fé firme que Cristo sofreu e que morreu por ele, sendo assim sacramento”

A Venda de Indulgências


Em 1513, um novo papa ocupou o trono da igreja de Roma, Leão X, o que figura entre os piores inimigos da verdade bíblica. Desde o começo , Leão X juntava grandes toneladas de dinheiro, grande parte era destinada para sustentar o luxo da corte papal. Não bastavam os lucros que chegavam de toda parte do mundo. Principalmente nos anos de 1514 e 1516, fez predicar uma indulgência plenária ou um indulto das penas impostas pela igreja aos homens pelos seus pecados, em troca de uma determinada quantia em dinheiro.

Quando se falava de indulgências, do que se tratava? Rotineiramente eram entendidas como a remissão, pela Igreja, de uma pena que tinha sido imposta ao penitente, depois que ele tinha confessado sua falta e recebido a absolvição. Isso, por sua vez baseava-se na idéia de que um ato pecador compreendia não apenas uma falta, mas também uma pena que o pecador devia cumprir sobre a terra ou no purgatório.

A pratica das indulgências existia desde o século XI. A princípio elas só abrangiam as penas impostas pela Igreja aqui na vida terrena, posteriormente foram estendidas àquelas do purgatório, abrangendo aí também aquelas que se referiam a pessoas já falecidas. Não se tratava mais apenas de remissão das penas canônicas, mas também das penas divinas decorrentes do pecado.

Se a atribuição das indulgências estava a principio ligada a momentos particulares (por exemplo, ao fim das cruzadas), ela veio tornar-se mais e mais freqüentes no final da Idade média, atreladas especialmente às necessidades financeiras do papado. A indulgência contra a qual Lutero iria se levantar tinha sido promulgada em 1506 e renovada em 1517. As somas recolhidas estavam destinadas a financiar a construção da basílica de São Pedro em Roma. Uma porcentagem cabia ao arcebispo Alberto de Mogúncia, que organizava na Alemanha a venda das indulgências, empregando os serviços de João Tetzel que dizia: “No Momento em que o dinheiro entra na caixa, a alma sai do purgatório[8]

Os escritores da época descrevem a pompa que o comissário fazia sua entrada nas cidades. Enquanto todos os sinos tocavam, padres, monges, doutores, estudantes e a população inteira, portando bandeiras e velas, iam cantando ao encontro dele. O cortejo entrava na igreja ao som do órgão. Diante do altar era colocada uma grande cruz vermelha, da qual pendia uma bandeira com as armas papais e ao lado dela a caixa destinada a receber dinheiro. As pregações diárias, os cânticos e as procissões ao redor da cruz impressionavam o povo, que se apressava a aproveitar aquela oportunidade incomparável de salvação. A confissão das multidões era feita às pressas, pois o objetivo não era a conversão, mas sim, o dinheiro.

Tetzel persuadia a multidão dizendo:

“Santo Estevão foi apedrejado, são Lourenço foi queimado, são Bartolomeu sofreu o mais cruel dos suplícios” bradava Tetzel. ... “O que é sacrificar pequena quantia em dinheiro em comparação com o sofrimento desses mártires? Vossos pais e antigos estão gemendo nos tormentos do purgatório, e vós os podeis livrar com uma pequena esmola. Vós, que tendes herdado os bens deles, não quereis fazer!”... “As indulgências são o mais precioso e sublime dom de Deus. Vinde e vos darei as cartas seladas, pelas quais os vossos pecados, até os que estaríeis tentados a cometer no futuro, vos serão todos perdoados. Não trocaria os meus privilégios pelos de são Pedro, porque salvei mais almas com as minhas indulgências do que o apóstolo com os seus discursos”.[9]

Aquisição de uma indulgência custava 1 florim para o artesão e 25 florins para os reis, príncipes e bispos. O custo da subsistência de uma pessoa importava em 1 florim para uma semana.

As 95 Teses de Lutero


Lutero inspirado por vários motivos, particularmente a venda de indulgências, na noite antes do Dia de Todos os Santos, a 31 de outubro de 1517, afixou na porta da Igreja de Wittenberg, suas 95 teses acadêmicas, intituladas "Sobre o Poder das Indulgências". Seu argumento era de que as indulgências só faziam sentido como livramento das penas temporais impostas pelos padres aos fiéis. Mas Lutero opunha-se à idéia de que a compra das indulgências ou a obtenção das mesmas, de qualquer outra maneira, fosse capaz de impedir Deus de aplicar as punições temporais. Também dizia que elas nada têm a ver como os castigos do purgatório. Lutero afirmava que as penitências devem ser praticadas diariamente pelos cristãos, durante toda a vida, e não algo a ser posto em prática apenas ocasionalmente, por determinação sacerdotal.

Ninguém se apresentou em Wittenberg para refutar as teses de Lutero. Tetzel bramia de raiva, insultando e amaldiçoando Lutero do púlpito. Mandou acender uma grande fogueira, na qual pretendia queimar todos os que se opusessem à venda de indulgências e depois imprimiu teses nas quais colocava decisões dos papas acima das Sagradas Escrituras. Por fim, ameaçou o doutor de Wittenberg com a excomunhão e com castigos terríveis.

Apresentou-se em seguida um adversário mais temível que Tetzel: Eck, professor da universidade e Ingoltadt. Ele publicou, com outro título Obeliscos, a refutação às teses de Lutero, com quem até então mantivera boas relações. O tom do escrito era grosseiro, preconceituoso e carregado de rancor. Eck acusava Lutero de ser hussita (Herege da Boêmia).

João Eck, denunciou Lutero em Roma, e muito contribuiu para que o mesmo fosse condenado e excluído da Igreja Romana. Silvester Mazzolini, padre confessor do papa, concordou com o parecer condenatório de Eck, dando apoio a este contra o monge agostiniano.

Em 1518. Lutero escreveu "Resolutiones", defendendo seus pontos de vista contra as indulgências, dirigindo a obra diretamente ao papa. Entretanto, o livro não alterou o ponto de vista papal a respeito de Lutero. Muitas pessoas influentes se declararam favoráveis a Martinho Lutero, tornando-se este então polemista popular e bem sucedido. Num debate teológico em Heidelberg, em 26 de abril de 1518, foi bem sucedido ao defender suas idéias.

Lutero é julgado como Herege


A 7 de agosto de 1518, Lutero foi convocado a Roma, onde seria julgado como herege. Mas apelou para o príncipe Frederico, o Sábio, que o protegia não porque estava convencido de suas doutrinas, mas sim porque lhe pareceu que a justiça exigia um julgamento correto. A principal preocupação de Frederico era ser um governante justo e sábio. Lutero teve seu julgamento foi realizado em território alemão em 12/14 de outubro de 1518, perante o Cardeal Cajetano, em Augsburg. Recusou-se a retratar-se de suas idéias, a menos que provasse onde estava errado, tendo rejeitado a autoridade papal, abandonando a Igreja Romana, o que ficou confirmado num debate em Leipzig com João Eck, entre 4 e 8 de julho de 1519. Que conseguiu vencer Lutero não por ser mais sábio, mas porque conseguiu que Lutero declarasse o que ele queria, que era favor de um herege condenado a morte.

A partir de então Lutero declara que a Igreja Romana necessita de Reforma, publica vários escritos, dentre os quais se destaca "Carta Aberta à Nobreza Cristã da Nação Alemã Sobre a Reforma do Estado Cristão". Procurou o apoio de autoridades civis e começou a ensinar o sacerdócio universal dos crentes, Cristo como único Mediador entre Deus e os homens, e a autoridade exclusiva das Escrituras, em oposição à autoridade de papas e concílios. Em sua obra "Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja", ele atacou o sacramentalismo da Igreja. Dizia que pelas Escrituras só podem ser distinguidos dois sacramentos o batismo e a Ceia do Senhor. Opunha-se à alegada repetida morte sacrificial de Cristo, por ocasião da missa. Em outro livro, "Sobre a Liberdade Cristã", ele apresentou um estudo sobre a ética cristã baseada no amor. Lutero obteve grande popularidade entre o povo, e também considerável influência no clero.



A Bula Exsurge Domine


Em 15 de julho de 1520, a Igreja Romana expediu a bula Exsurge Domine, que execrou 41 posições tiradas dos escritos de Lutero. Ela exigiu que ele se retratasse publicamente em 60 dias, sob pena de ser excomungado. Lutero em 10 de Dezembro de 1520, queimou a bula em praça pública. Carlos V, Imperador do Santo Império Romano, mandou queimar os livros de Lutero em praça pública. A Janeiro de 1521, Roma promulgou a bula Dect romanum pontificem, que excomungava Lutero e seus partidários.

A Dieta de Worms


Lutero compareceu a Dieta de Worms, de 17 a 19 de abril de 1521. Foi levado diante do Imperador e vários dos principais personagens do Império. Quem estava encarregado de interrogá-lo lhe apresentou um montão de livros e lhe perguntou se os havia escrito. Depois de examiná-los, Lutero confirmou que os havia escrito todos e vários outros que não estavam ali. Então seu interlocutor lhe perguntou se continuava sustentando tudo o que havia dito neles ou se estava disposto a retrata-se de algo. Este era um momento difícil para Lutero, não tanto porque temia o poder imperial, mas porque temia sobremaneira a Deus. Uma vez mais o monge temeu diante da majestade divina e pediu um dia para considerar sua resposta.

No dia seguinte, Lutero recusou-se a retratação, dizendo que a sua consciência estava presa à Palavra de Deus, pelo que a retratação não seria seguro nem correto. Dizem os historiadores que concluiu a sua defesa com estas palavras : "Aqui estou; não posso fazer outra coisa. Que Deus me ajude. Amém" [10]. Ao queimar a bula papal, Lutero havia rompido definitivamente com Roma. E agora em Worms, rompia com o Império. No dia 25 de maio de 1521, formalizou-se a excomunhão de Martinho Lutero.

Lutero em Wartburg –  A Tradução da Bíblia para o Alemão


Lutero tinha 21 dias para passar em segurança para a Saxônia antes que a sentença fosse baixada. Ele foi salvo da prisão e da morte pelo príncipe da Saxônia, o duque Frederico, cujos domínios incluíam Wittenberg. O duque deu-lhe asilo em seu solitário castelo em Wartburg, onde permaneceu cerca de 1 ano disfarçado de um fidalgo de menor importância, de nome Junker George ou com o pseudônimo de “cavalheiro Jorge”.[11]

Neste período Lutero escreveu várias obras, mas dentre elas, a mais importante foi a tradução da Bíblia para a língua alemã. A Bíblia inteira foi traduzida, com a ajuda de Melanchthon e outros. O novo Testamento ficou pronto cerca de dois (2) anos e o Antigo Testamento demorou pouco mais de dez (10) anos. E a Bíblia foi publicada em 1532. Pela importância da obra, bem valia o tempo empregado nela, pois a Bíblia de Lutero, além de dar um novo ímpeto ao Movimento Reformador, deu forma à nacionalidade alemã e ao idioma, unificando os vários dialetos alemães, do que resultou o moderno alemão.

Enquanto Lutero estava exilado, vários de seus colaboradores se ocupam em continuar o trabalho reformador em Wittenberg. Deles, os mais destacados foram Carlstadt e Felipe Melanchthon, um jovem professor de grego, de temperamento muito diferente de Lutero, porém convencido das opiniões de seu colega. Até então, a reforma que Lutero tinha iniciado não havia tomado forma concreta na vida religiosa de Wittenberg. Lutero era um homem tão temente a Deus que tinha vacilado em dar os passos concretos que seguiam sua doutrina. Porém agora, na sua ausência, estes passos foram dados rapidamente um após o outro.

Muitos monges e freiras deixaram seus conventos e se casaram. O culto foi simplificado e começou-se a usar o alemão ao invés do latim. Aboliram as missas pelos mortos. Cancelaram os dias de jejum e abstinência. Melanchthon começou a oferecer a comunhão de ambos os modos, isto é, deu o cálice aos leigos. Lutero respondeu a Melanchthon que aprovava a distribuição do cálice aos fieis, contanto que cada um fosse livre para tomá-lo ou para abster-se.

No princípio Lutero viu tudo isso com agrado. Porém, logo começou ater dúvidas sobre o que estava acontecendo em Wittenberg. Quando Carlstadt e vários de seus seguidores se dedicaram a derrubar imagens. Lutero lhes aconselhou moderação.

Alguns leigos começaram a se levantar dizendo ser profetas, Melanchthon não sabia como responder a tais pretensões, e pediu conselho a Lutero. Por fim ele dicidiu que o que estava em jogo era nada menos que o evangelho e regressou a Wittenberg. Antes de dar esse passo levou-o ao conhecimento de Frederico, o Sábio, porém deixando claramente que não esperava sua proteção, mas que confiava unicamente em Deus, em cujo serviço estava envolvido.

A Revolta dos Camponeses


Até 1523 continuou lecionando na Universidade, inclinando-se, porém, para o lado dos místicos de Zwickau e nutrindo-se dos escritos da Idade Média. De repente renunciou às honras universitárias, retirou-se para o campo e depois para Orlamunde, onde suas pregações atraíam multidões. Mandou saquear as igrejas, queimar os quadros e quebrar os crucifixos e imagens. Misturando ultra-espiritualismo com a mais vil corrupção, consentiu na poligamia, recusou A pagar impostos e restabeleceu a lei de Moisés, incluindo-se o Jubileu: a cada cinqüenta anos, as propriedades retornariam aos seus proprietários originais.

Os camponeses reunidos ao povo da cidade aceitaram com entusiasmo as novas teorias, recusavam-se a pagar os impostos e se revoltaram contra as autoridades. Os rebeldes saquearam o castelo de Helfenstein e, ao som de musica, de cantos e risadas, assassinaram o senhor do feudo na presença da mulher e do filho. Eles queimando, matando e saqueando entraram triunfantes em Erfurt. Munzer ia à frente conclamando as multidões à guerra santa e incitando-as ao roubo e à matança. Falava-se em três mil camponeses prontos para a luta, e os príncipes não tinham exercito capaz de resistir-lhes. Lutero não se poupou. Arriscando a vida, foi ao encontro dos camponeses pregando a todos a paz e concórdia.

Frederico, o Sábio, encontrava-se gravemente enfermo no castelo de Lochau e morreu no dia 5 de Maio de 1525. O corpo foi solenemente conduzido a Wittenberg e deposita na matriz. Lutero encarregou-se do serviço fúnebre e chorou a morte daquele príncipe pacifico.

Quadrilhas de vândalos, ladrões e assassinos continuavam a infestar o país. Lutero instigou os príncipes e magistrados a procederem com rigor contra eles. A rebelião foi controlada com a união dos príncipes saxões e baniram os oito mil homens aliciados por Munzer, o qual foi preso e executado, demonstrando grande covardia no momento da morte.

Muitos camponeses morreram[12], e Lutero foi acusado tanto de fomentara revolta por seus escritos quanto de instigar os príncipes a usar de severidade para com os vencidos camponeses. Porém, se incitou as autoridades a reprimir a revolta, ao mesmo tempo lhe suplicara que usassem de mansidão, não somente para com os inocentes, mas também para com os culpados. Lutero permaneceu inflexível perante os ataques e as calunias a ele dirigidos. Foi nessa época que decidiu dar um passo decisivo para a afirmação de sua liberdade, embora significasse a renovação da ira dos antigos adversários, os papistas: o casamento.

O Casamento de Lutero

Enquanto permaneceu em Wartburgo, Lutero soube que alguns padres e monges, quebrando os votos, haviam-se casado. Sobre a questão, declarou energicamente que não os imitaria. Contudo, depois disso, assistiu ao casamento de colegas e amigos e até aconselhou alguns a seguir o exemplo.

Somente no outono de 1524 Lutero substituiu o capuz de monge pelo traje de doutor em teologia. No domingo d, 9 de Outubro de, levantou-se como de costume, pôs de lado a batina de monge agostiniano e, vestido de preto, apareceu no templo, onde a mudança provocou grande alegria. Na primavera seguinte, veio-lhe o pensamento de se casar.
Um ano antes, algumas religiosas fugidas de um convento haviam chegado a Wittenberg. Entre elas achava-se Catarina von Bora, descendente de família nobre, mas empobrecida. Havia sido enviada para o convento na mais tenra idade e recebida como religiosa aos dezesseis anos.  Quando Lutero a pediu em casamento, estava com 26 anos e Lutero com 42 anos. Catarina von Bora não era notável pela beleza nem por nenhum outro atrativo, mas era uma verdadeira mulher, forte, corajosa,franca e fiel. Lutero encontro nela uma auxiliadora dedicada que cuidou dele e o amparou em meio aos sofrimentos físicos e morais.

Catarina von Bora
  
No dia 13 de Junho de 1525, Lutero casou-se com Catarina. A perplexidade foi geral quando tornou público, o seu casamento, calunias não lhe foram poupadas. Muitos de seus partidários achavam que eu líder havia perdido a dignidade. Melanchthon, seu intimo amigo, por instante ficou fora de si, julgando o casamento de Lutero uma fraqueza deplorável que traria prejuízo a sua obra e a sua autoridade no momento em que a Alemanha, mais do que nunca, necessitava dele.

Lutero porém, estava convencido de que fora evado por Deus a dar esse passo decisivo. Lutero e Catarina tiveram seis filhos, dos quais alguns faleceram na infância. Adotou outros filhos. Este fato serviu para incentivar o casamento de padres e freiras que tinham preferido adotar a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

Dieta de Augsburgo – A Confissão de Angsburgo


O édito imperial que convocava a Dieta em Augsburgo no ano de 1530 parecia oferecer uma esperança de paz aos protestantes. Depois de anunciar que a sessão trataria dos erros e divisões que afligiam a igreja, solicitava que cada um apresentasse seus esclarecimentos com espírito de amor e de benevolência.

Todavia , o imperador de modo nenhum pensava em colocar as duas confissões em pé de igualdade. Seu único pensamento era evitar uma guerra interna. O legado do papa também se inclinava a meios mais brandos. Por isso o eleitor cheio de esperança pediu a seus teólogos que redigissem a confissão de sua fé para apresentá-la à Dieta.

Em Fevereiro de 1530, Lutero e Melanchthon partiram de Wittenberg com o soberano, Espalatino e Agrícola, este na função de pregador da corte. Demoraram-se em Weimar, onde o eleitor comungou com os reformadores, e em Coburgo, onde esperaram a abertura da Dieta.

Com a intenção de colocar Lutero fora de perigo, levaram-no na noite do dia 22 para o dia 23 de Abril, até a fortaleza que domina a cidade de Coburgo. O monge excomungado pelo papa e considerado fora-da-lei pela Dieta não podia, nem com salvo conduto, comparecer diante do imperador, do soberano pontífice ou da alta assembléia. Mas o eleitor queria tê-lo o mais perto possível de Augsburgo para comunicar-se com ele durante as sessões. No entanto, a distancia entre Augsburgo e Coburgo, fronteira extrema do eleitorado, era de quatro dias.

O eleitor João chegou em Augsburgo no dia 2 de Maio e, até 15 de Junho aguardou o imperador, que demorou em Innsbruck com o duque Jorge e outros príncipes católicos. Nesse tempo Melanchthon trabalhava com zelo dia após dia na redação da confissão de fé reformada. Melanchthon, que iniciara o trabalho com Lutero , tomou como base para a confissão de fé os artigos de Marburgo, esforçando-se para colocar em evidência as relações existentes entre as duas religiões e atacando somente alguns erros e abusos da Igreja Romana.

Na tarde de 11 de Junho, Carlos V fez sua entrada na cidade de Augsburgo. Quando o núncio Campiego, de cima de sua mula, abençoou a multidão em nome do papa, o imperador, os príncipes e o povo se curvaram, somente os protestantes ficaram em pé, não quiseram se juntar ao promposo séquito. O margrave de Brandeburgo disse ao imperador: “Querem que tomemos parte nessa procissão. Mas Jesus Cristo não ordenou essas coisas. É impossível obedecermos a essa ordem. Antes de renegar ao nome de Deus, larçar-me-ia aos pés de vossa majestade e deixaria que me cortassem a cabeça[13]. Melanchthon ficou muito aflito coma as ameaças dos adversários. Temia o efeito que produziria a confissão de fé.

O dia 25 de Junho de 1530 é o mais importante da Reforma e um dos mais belos da historia do cristianismo e da humanidade. A Dieta reuniu-se. e Carlos V tomou lugar ao trono. Então o eleitor da Saxônia, seu filho João Frederico, Filipe, o landgrave de Hesse, o margrave de Brandeburgo, o duque de Brunswick, o príncipe de Anhalt e os depultados das cidades de Nuremberg e de Reutlingen levantaram-se e apresentaram a Confissão de fé protestante.

Fez-se a leitura em voz alta e em alemão, apesar dos esforços do imperador para impedi-la. Todas as doutrinas da Reforma estavam contidas na Confissão de Augsburgo e expressas de modo que não ferissem violentamente os adversários, aos quais antes se desejava convencer.

Depois de terem confessado a sua fé, os protestantes preparavam-se para deixar Augsburgo. Foram, porém, obrigados a retardar a partida, porque o imperador havia pedido a zelosos católicos uma refutação da confissão de fé. Cochleus e Eck, o antigo e forte adversário de Lutero, encarregaram-se dessa defesa. Melanchthon passou pelas horas mais sombrias e nefastas de sua carreira. Desejando a paz acima de tudo, esforçou-se em representar os protestantes prontos a aceitar o ensino da Igreja Romana e dispostos a fazer concessões no tocante ao culto e à hierarquia eclesiástica.

Lutero não podia admitir, como fazia Melanchthon, a união de doutrinas com os católicos, mas esperava que s e chegasse a um arranjo político, sob cuja sombra as duas confissões pudessem viver pacificamente no Império.

A refutação católica foi apresentada à Dieta no dia 3 de Agosto, e Carlos V determinou que a minoria protestante devia aceitá-la e dar-se por vencida. O Filipe, em resposta a esse decreto, deixou Augsburgo subitamente, sem autorização do imperador, e retirou-se para os seus domínios a fim de preparar-se para responder à força, se necessário fosse. O imperador que não esperava tal impacto, nomeou uma comissão para discutir as duas confissões. Melanchthon foi o único elemento protestante a participar.

Não obstante a demoradas comunicações com Coburgo e a rapidez com que Carlos V fazia trabalhar a comissão, o eleitor reclamava constantemente o conselho de Lutero. Tratava-se de decidir até onde deviam ir os protestantes nas suas concessões aos adversários. Quanto aos católicos, a diferença de doutrina não era para eles o mais importante, e sim o restabelecimento da missa, do sacramento da eucaristia e do direito dos bispos. Melanchthon estava disposto a restabelecer o culto católico e submeter-se à autoridade dos bispos até o próximo concílio. Os chefes protestantes e deputados das cidades, assustados com a fraqueza de Melanchthon e suas concessões, encarregaram um amigo de Lutero de prevenir o reformador, dizendo que Lutero refrear Melanchthon que estava fazendo mal ao evangelho.

Lutero escreveu ao amigo com gravidade. Era impossível conservar a missa, que contém o dogma inadmissível do sacrifício constantemente repetido do Filho de Deus, sem transformar-lhe inteiramente em liturgia. Quanto aos bispos, se lhes fosse dado o poder, acabaria a livre pregação do evangelho. Além do mais estava convencido da inutilidade das tentativas de conciliação. Em vão se procuraria estabelecer acordo entre o papa e Lutero. Ao para não importava entrar em acordo, e Lutero recusava qualquer ajuste.

O perigo a que Melanchthon, por suas concessões, havia exposto a Reforma foi afastado graças à crescentes exigências dos católicos. Nem mesmo Melanchthon pôde aceitá-las, e os estados protestantes mantiveram o protesto contra as decisões da Dieta de 1526.

Carlos V, temia uma guerra civil e não havia encontrado nos príncipes católicos providências suficientes contra a heresia, adiou as medidas repressivas contra os hereges. No discurso de encerramento da Dieta, exprimiu seu descontentamento por ver os protestantes perseverarem nos seus erros e concedeu-lhes tempo, até 15 de Abril seguinte , para retornarem ao seio da Igreja Romana. Os príncipes e os deputados das  cidades protestaram contra o decreto, mas aceitaram o prazo que lhes era oferecido. Até então a paz política ficava assegurada.

A paz religiosa, enfim foi assinada em Nuremberg, no dia 23 de Julho de 1532, e ratificada pelo imperador. Os dois partidos obrigaram-se a suportar-se mutuamente e a viver juntos de maneira cristã até o concilio seguinte. No dia 16 de Agosto o eleitor morreu. A paz, com tanto ardor desejada por Lutero para o seu povo e igreja, foi finalmente selada. Regozijou-se dela como de uma graça providencial. A paz durou todo o resto de sua vida.

Enfermidade e Morte.


Os últimos dias de Lutero tornaram-se difíceis devido a problemas de saúde. Com freqüência tinha acesso de melancolia profunda. Apesar disso era capaz de trabalhar tenazmente. No domingo, 14 de Fevereiro, pregou pela ultima vez.


“Fechemos os olhos a toda sabedoria humana”, conclamou. “Liguemo-nos à Palavra de Deus. Vamos a Deus, porque ele nos chama, e digamos-lhe: ‘És meu Senhor, meu Mestre, e eu sou teu discípulo[14]’”.


 Era quinta-feira, 18 de fevereiro de 1546, entre duas e três horas da madrugada em Eislebem, Lutero veio a falecer com 62 anos. Antes de adormecer, Lutero citava várias vezes trechos da Bíblia como o de João 3.16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que todo aquele que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna”.  E em latim dizia “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, pois tu me resgataste, Deus Fiel”

Outras Obras


Em 1528 e 1529, Lutero publicou o pequeno e o grande catecismo, que se tornaram manuais doutrinários dos protestantes, nome dado aqueles que decidiram abandonar a Igreja Romana, na Dieta de Speyer, em 1529.

Juntamente com Melancton e outros, produziu a confissão de Augsburg, que sumaria a fé luterana em vinte e oito artigos. Em 1537, a pedido de João Frederico, da Saxônia, compôs os Artigos de Schmalkald, que resumem seus ensinamentos.

A Teologia de Lutero


Como monge agostiniano, Lutero dava preferência a certos estudos, dentre os quais se destacam a soberania de Deus, dando uma abordagem mais bíblica às questões religiosas e às doutrinas cristãs. Alguns pontos defendidos por Lutero são :

  1. Nem o papa nem o padre, tem o poder de remover os castigos temporais de um pecador.
  2. A culpa pelo pecado não pode ser anulada por meio de indulgências.
  3. Somente um autêntico arrependimento pode resolver a questão da culpa e do castigo, o que depende única e exclusivamente de Cristo.
  4. Só há um Mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo.
  5. Não há autoridade especial no papa.
  6. A Bíblia é a única autoridade de fé e prática para o cristão.
  7. A justificação é somente pela fé.
  8. A soberania de Deus é superior ao livre-arbítrio humano.
  9. Defendia a doutrina da consubstanciação em detrimento da transubstanciação.
  10. Há apenas dois sacramentos : o batismo e a ceia do Senhor.
  11. Opunha-se a veneração dos santos, ao uso de imagens nas Igrejas, às doutrinas da missa e das penitências e ao uso de relíquias.
  12. Contrário ao celibato clerical.
  13. Defendia a separação entre igreja e estado.
  14. Ensinava a total depravação da natureza humana.
  15. Defendia o batismo infantil e a comunhão fechada.
  16. Defendia a educação dos fiéis em escolas paroquianas.
  17. Repudiava a hierarquia eclesiástica.

Cronologia da Vida de Lutero[15]


1483, 10 de Novembro: nascimento de Lutero em Eisleben.
1484, Verão: mudança da família de Lutero para Mansfeld.
1497, Escolarização em Magdeburg.
1498, Escolarização em Eisenach.
1501, Maio: estudos em Erfurt
1505, 17 de Julho: entrada de Lutero no convento dos agostinianos de Erfurt.
1507, 2 de Maio: primeira missa.
1508, Inverno: encarregado do curso em Wittenberg.
1509, Outubro: retorno a Erfurt.
1510, Novembro: viagem a Roma.
1512, 19 de Outubro: doutor em Teologia em Wittenberg.
1513, 1518: Curso sobre os Salmos, as epistolas aos Romanos, Gálatas, Hebreus.
1517, 31 de Outubro: as 95 Teses.
1518, 26 de Abril: Debate de Heidelberg.
            Julho: Lutero é atacado por Priérias.
            7 de Agosto: Lutero é Convocado a Roma.
            8 de Agosto: Apelo de Lutero ao príncipe-eleitor Frederico, o Sábio.
            31 de Agosto: Lutero responde a Priérias.
            12–14 de Outubro: entrevista com Caetano
            28 de Novembro: Apelo a um concilio geral.
1519, 4–6 de Janeiro: Conversão entre Lutero e Militz.
            28 de Junho: Carlos V torna-se Imperador em Lugar de Maximiliano I, falecido.
            7-14 Julho: Debate de Leipzig entre Lutero e Eck.
1520: Os grandes escritos reformadores:
            Das boas obras.
            À nobreza cristã da nação alemã, acerca da melhoria do estamento cristão.
            Do cativeiro babilônico da igreja.
            Tratado acerca da liberdade cristã.
            15 de Junho: Bula papal Exsurge Domine com ameaça de excomunhão.
            10 de Dezembro: Lutero queima a bula papal e o direito canônico.
1521, Janeiro: Bula Decet Romanum Pontificem excomunga Lutero.
            6 de Março: Lutero é convidado a Worms.
            16-18 de Abril: Lutero na Dieta de Worms.
            26 de Maio: Promulgação do Edito de Worms que coloca Lutero como proscrito do Império.
            Maio de 1521 a Março de 1522: Lutero no Wartburgo. Tradução do Novo Testamento.
1522, Setembro: Publicação da tradução do Novo Testamento feita por Lutero.
1523, Maio: Da autoridade secular.
1524, Janeiro-Fevereiro: Aos magistrados de todas as cidades alemãs.
            Setembro: Erasmo escreve Do livre-arbítrio.
1525, Janeiro: Contra os profetas celestes.
            Abril – Maio: Guerrra dos Camponeses.
            13 de Junho: Casamento de Lutero com Catarina von Bora.
            Por volta do Natal: Missa alemã.
            Dezembro: Do servo-arbítrio (Da vontade cativa).
1526, Junho – Agosto: A Dieta de Espira suspende a aplicação do Edito de Worms.
1527, Abril: A firmeza inabalável das palavras “Isto é o meu corpo”. Controvérsia com Zwinglio.
            Verão: Enfermidade, depressões de Lutero.
1528, 22 de Março: Instrução para os visitadores.
            28 de Março: A Ceia de Cristo.
1529, 19 de Abril: Protestação dos territórios evangélicos na Dieta de Espira.
            1 – 4 de Outubro: Conversação de Marburgo
            Catecismos de Lutero.
1530, Dieta de Augsburgo em que é apresentada (25 de Junho) a Confissão de Angsburgo
1534, Fim da tradução da Bíblia.
1536, Concórdia de Wittenberg.
1539, Bigamia do landgrave do Hesse.
1543, 4 de Janeiro: Publicação do comentário sobre Gênesis  (cursos de 1535-45)
1546, 18 de Fevereiro: Morte de Lutero em Eisleben



Bibliografia


CASTEX, Bernardo C. Biografia de Grandes Homens Cristãos. São Paulo: Editora: Livraria Fittipaldi, 1965,160p.

GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. Trad. Gérson Dudus e Valéria Fontana. São Paulo: Editora Vida Nova, 1993, 339 p.

GONZALEZ, Justo L. A era dos Reformadores, E até os confins da Terra: Uma história Ilustrada do Cristianismo Vol.6. Trad. Itamar N. de Sousa. São Paulo: Editora Vida Nova, 1995, 219 p.

LIENHARD, Marc. Martim Lutero. Tempo, Vida e Mensagem. Trad. Walter Altmann e Roberto H. Pich. Rio Grande do Sul: Editora Sinodal, 1998, 409 p.

SAUSSURE, A. de. Lutero. Trad. Anna Huber. São Paulo: Editora Vida, 2004, 168 p.

SHELLEY, Bruce L, História do Cristianismo, Ao alcance de todos. Trad. Vivian Nunes Amaral. São Paulo: Editora Shedd Publicações, 2004, 572 p.

STTOHL, Henri. O Pensamento da Reforma. Trad. Aharon Saosezian. 2º Ed. São Paulo: Editora Aste, 2004, 248 p.





[1] LIENHARD, Marc. Martim Lutero. Trad. Walter Altmann e Roberto H. Pich. Rio Grande do Sul: Editora Sinodal, 1998, p 34.
[2] SHELLEY, Bruce L, História do Cristianismo, Ao alcance de todos. Trad. Vivian Nunes Amaral. São Paulo: Editora Shedd Publicações, 2004, p 266.
[3] SAUSSURE, A. de. Lutero. Trad. Anna Huber. São Paulo: Editora Vida, 2004,  p 13.

[4] STTOHL, Henri. O Pensamento da Reforma. Trad. Aharon Saosezian. 2º Ed. São Paulo: Editora Aste, 2004, p. 27

[5] SAUSSURE, op. cit. p. 27 – “Eleitor” era o príncipe ou bispo com direito a eleger o imperador, na antiga Alemanha.
[6] LIENHARD, op. cit. p. 41
[7] LIENHARD, op. cit. p. 52
[8] SAUSSURE, op. cit. p.34
[9] SAUSSURE, op. cit. p.35
[10] GONZALEZ, Justo L. A era dos Reformadores, E até os confins da Terra: Uma história Ilustrada do Cristianismo Vol.6. Trad. Itamar N. de Sousa. São Paulo: Editora Vida Nova, 1995, p. 64.
[11] SAUSSURE, op. cit. p. 75
[12] GONZALEZ, op. cit. p. 83 – Calcula-se que mais de 100.000 camponeses foram mortos.
[13] SAUSSURE, op. cit. p. 117
[14] SAUSSURE, op. cit. p. 164
[15] LIENHARD, op. cit. p. 389-390

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