Artigo: Posição Escatológica

ESCATOLOGIA

Apresentado na Faculdade Teológica Batista de Campinas

Por: Paulo César Berberth Lima
Disciplina: Teologia Sistemática IV
Professor: Pr Mark Ellis

Posição Escatológica
“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” (Mateus 25.31-34)
           

O que é Escatologia?

A escatologia é o estudo das últimas coisas. Fala, portanto, acerca dos desdobramentos finais da história humana, quer no âmbito individual, tratando especificamente da morte do ser humano e do destino de sua alma, quer no âmbito geral, tratando sobre os acontecimentos que cercam a volta de Jesus Cristo, o juízo final e a destinação da alma de salvos e não salvos.
Dentro da escatologia individual, dois temas recebem destaque: o tema da morte e a discussão acerca do destino da alma na espera pelo juízo final. Ao tratarmos acerca do tema da morte devemos diferenciá-la em morte física e morte espiritual. A morte física é o cessar das atividades biológicas do corpo. Esta é resultado da condição finita e limitada do ser humano. A Bíblia afirma que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hb 9,27).  A morte física não é o fim da existência, mas apenas a transição para uma nova existência que pode ser uma existência de vida plena, para os que morreram salvos por Cristo Jesus, ou de morte plena, para aqueles que não receberam a salvação oferecida por Deus através de Cristo Jesus.
Para finalizar este esboço acerca da escatologia individual é preciso apresentar nossa posição acerca do estado intermediário, ou seja, o destino do espírito enquanto esta aguarda o julgamento final. Admite-se aqui que justos, assim que morrem, são levados a um lugar de bem-aventurança na presença do Senhor e os ímpios a um lugar de tormento, onde aguardarão o juízo final (Lc 16,19-31; 23,43; IICo 5,1-10). Para esclarecer tal pressuposto, cito aqui o teólogo Millard Erickson: “Entre a morte e a ressurreição, há um estado intermediário em que crentes e incrédulos experimentam, respectivamente, a presença e a ausência de Deus”. [1]    
A escatologia geral ou cósmica trata dos assuntos referentes à segunda vinda de Jesus Cristo. Esta segunda vinda é acompanhada de dois outros eventos importantíssimos: a ressurreição dos mortos e o julgamento final. A esperança cristã do retorno de Cristo é amplamente fundamentada na Bíblia, quer seja nas promessas de Jesus acerca de sua volta (Mt 24-25; Mc 13; Lc 21,6-38) quer seja às várias outras referências ao retorno de Cristo (At 1,10-11 ICo 15; ITs 4,13-18; Hb 9,28; Tg 5,7-8; IIPd 1,16). A segunda vinda de Jesus Cristo apresenta algumas características importantes:

·         Não nos são reveladas questões concernentes ao tempo desta volta (Mt 24,36-44; Mc 13,32-37), portanto ela será inesperada (Mt 25; Mc 13). Sobre esta característica, vale destacar que a volta de Cristo deve ser encarada a partir da sua iminência, ou seja, que está em vias de acontecer imediatamente. Tal característica foi fortemente enfatizada por Jesus Cristo (Mt 24-25; Mc 13);
·         A volta de Jesus Cristo será pessoal, física e visível (Mt 24,30; Jo 14,3; At 1,11; ITs 4,16);
·         A volta de Cristo será gloriosa (Mt 24,30; Mc 13,26; Lc 21,27).
           
            A volta de Jesus Cristo acarretará outro evento que fundamenta a esperança do salvo por Jesus: a ressurreição. A Bíblia apresenta diversos ensinamentos acerca da ressurreição, dos quais destacamos. Tal ressurreição será corporal e será para salvos e não salvos (Dn 12,2; Jo 5,25-29; 6,40; 11,24-25; At 24,14-15; Rm 8,11; ICo 15; ITs 4,13-18; Ap 20).
Outro evento ligado ao retorno de Cristo é o julgamento final (Mt 16,27; 13,37-43; 25,31-46; Jo 5,24-30; 12,47-48; At 24,24-27; ICo 4,5; Hb 6,1-2). Este julgamento será universal, ou seja, todos serão julgados (Mt 25,32; Rm 14,10). Neste grande julgamento, Jesus Cristo será o grande juiz (Jo 5,22-27; At 10,42; IICo 5,10) que com justiça estabelecerá a sua sentença (Mt 25,31-46; Jo 5,29; IICo 5,10 ).  Este julgamento será irrevogável (Mt 25,46).
Uma discussão que marca o desenvolvimento da escatologia cristã, principalmente no que se refere á segunda vinda de Jesus Cristo, aborda o tema do milênio – período no qual Cristo reinará na terra. Tal discussão procura definir algumas informações acerca da segunda vinda de Cristo a partir do vigésimo capítulo do Apocalipse de João. Três opiniões se formaram e ganharam espaço na teologia, a saber:

·         Pós-milenismo: afirma que a segunda vinda de Cristo encerrará o período do milênio;
·         Pré-milenismo: afirma que o milênio será inaugurado com a segunda vinda de Cristo;
·         Amilenismo: afirma que não haverá um milênio;

Diante destas três posições, prefiro participar de uma concepção AMILENISTA, entendendo o caráter simbólico da passagem. Com aspecto simbólico da passagem, procuro destacar uma visão do texto baseado no consolo e no ânimo para o coração daqueles que esperam a concretização real do Reino de Deus e de seus valores neste mundo.  
O termo “amilenismo” ao meu entender, não é a melhor definição para esta posição escatológica, o termo em si não consegue expressar o que é realmente o amilenismo, ou pelo menos é mal interpretado, pois ele sugere que os amilenistas não crêem em qualquer tipo de milênio ou que simplesmente ignoram os seis primeiros versos de Apocalipse 20, que falam de um reino milenial, mas nenhuma dessas afirmações são verdadeiras, apesar de ser verdade de que os amilenistas não crêem em um reino terreno literal de exatamente mil anos que se seguirá ao retorno de Cristo. Na verdade, noutras palavras, o importante para o amilenista é o reinado de cristo e não o milênio em si.
O Professor Jay E. Adans, do Westminster Seminary na Filadélfia (de acordo com o livro Milênio Significado e Interpretações) sugeriu que o termo fosse substituído pela expressão “milenismo realizado”, mas mesmo assim não seria o ideal segundo meu ponto de vista, porque a expressão “realizado”, poderia dar a entender que já acabou o reinado de Cristo ou que já foi totalmente consumado. Deste modo poderia excluir o desenvolvimento posterior e a consumação final da escatologia no futuro. Uma sugestão pessoal seria: “reinado iniciado” ou “reinado inaugurado”. Caberia aqui perfeitamente a expressão, “já, mas ainda não”, ou seja, o Reinado de Cristo foi inaugurado nos corações de todos aqueles que crêem em teu nome, mas ainda não foi totalmente consumado, pois há fatos que ainda serão revelados.
A interpretação de apocalipse vinte como já foi mencionada acima é feita de forma simbólica. Devemos entender que Apocalipse como descrevendo o que acontece durante toda História da Igreja, a partir da primeira vinda de Cristo, deduziremos então, que apocalipse não trata de assuntos exclusivamente futurista, mas também de coisas que já deram inicio como é o caso do milênio. Faço a interpretação de Apocalipse usando o método de interpretação conhecido como “paralelismo progressivo” que afirma que o Livro de Apocalipse consiste em sete secções paralelas entre si, cada uma delas descrevendo a igreja e o mundo desde a época da primeira vinda e Cristo até a da sua segunda vinda.
Há uma progressão escatológica nas setes secções não apenas com relação às secções em si, mas também ao livro como todo. O livro de Apocalipse retrata a luta de Cristo e sua igreja, de um lado, e os inimigos de Cristo e da sua igreja do outro. Podemos dizer que a primeira metade do livro (capítulos 1a 11) descreve a luta na terra, retratando a igreja perseguida pelo mundo. A segunda metade do livro, entretanto (capítulos 12 a 22) dá-nos o pano de fundo espiritual mais profundo desta luta, descrevendo a perseguição da igreja pelo dragão (satanás) e seus auxiliares. À luz desta analise, vemos como a última secção do livro (capítulos 20 a 22) se encaixa no todo. Esta ultima secção descreve o julgamento que cai sobre satanás e seu fim definitivo. Já que satanás é o supremo oponente de Cristo e de sua igreja, é lógico que o seu fim devia ser narrado por último.
Podemos agora prosseguir para a interpretação de Apocalipse 20.1-6. A única passagem na Bíblia que fala explicitamente de um reino de mil anos. Observe, primeiramente, que a passagem obviamente divide-se, em duas partes:
1.    Versos 1 a 3, que descrevem o acorrentamento de Satanás;
2.    Versos 4 a 6, que descrevem o reinado de mil anos das almas com Cristo.
A interpretação pré-milenista destes versos os vê como uma descrição de um reinado de Cristo no milênio na Terra, que ocorrerá após a sua Segunda Vinda. E é verdade que falou-se da Segunda Vinda de Cristo no capítulo anterior, veja  Apocalipse 19.11-16:

“11 Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça.  12 Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo.  13 Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus;  14 e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro.  15 Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso.  16 Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”.

Se, portanto, pensa-se em Apocalipse 20 como descrição do que vem cronologicamente depois do que é descrito no capítulo 19, deve-se realmente chegar à conclusão que o milênio de Apocalipse 20.1-6 virá depois da volta de Cristo. Como foi mostrado anteriormente, porém, os capítulos 20 a 22 constituem a última das sete secções do livro de Apocalipse, e portanto não descrevem o que se segue à volta de Cristo.
A meu ver, que esta é a interpretação correta destes versos é óbvio não apenas pelo que mencionei acima, mas também pelo fato que este capítulo descreve a derrota e o fim definitivo de satanás. Certamente a derrota de satanás começou com a primeira vinda de Cristo, como está claramente explicado em 12.7-9. O reinado milenial descrito nos versos 4 a 6 acontecem antes da Segunda Vinda de Cristo é evidente pelo fato que o julgamento final, descritos nos versos 11 a 15 deste capítulo, é descrito vindo depois do reinado de mil anos. Não apenas no livro de Apocalipse , mas em qualquer outro lugar no Novo Testamento, o juízo final está ligado à Segunda Vinda de Cristo, (veja Apocalipse 22.12 e as seguintes passagens: Mateus 16.27; 25.31-32; Judas 14-15; e especialmente 2 Tessalonicenses 1.7-10). Sendo assim, é obvio que o reinado de mil anos de Apocalipse 20.4-6 deve acontecer antes e não depois da Segunda Vinda de Cristo.
Outra discussão que ganha corpo na produção escatológica da teologia cristã aborda a questão do período da tribulação, do momento da segunda vinda de Cristo em meio a esta e do lugar dos salvos por Jesus em meio a esta. Neste sentido, são três as opiniões, a saber:
·         Pré-tribulacionismo: sustenta uma primeira volta de Jesus para arrebatar a sua Igreja antes da tribulação;
·         Meso-tribulacionismo: sustenta que a volta de Cristo e o arrebatamento da igreja se dá em meio ao período de tribulação;
·         Pós-tribulacionismo: sustenta que a vinda de Cristo para a Igreja será após a tribulação;
            Diante destas três posições, creio que a meso-tribulacionista produz uma resposta mais coerente para questões que se levantem acerca do período da tribulação e do retorno de Cristo para a sua Igreja (conforme: Jo 16,33; At 14,22; Rm 5,3-5; ITs 3,3).
            Cabe agora apresentar, por fim, os estados finais após o julgamento, ou seja, as principais concepções acerca de céu e inferno.    O céu é correspondente ao estado final dos redimidos por Jesus Cristo. O céu é o lugar da vida plena da presença de Deus (Mt 5,16; 6,9; 18,10). Mediante a presença de Deus, o céu é um lugar livre de males e de pecado (Ap 21,4). Já o inferno se apresenta como o estado final dos ímpios. O inferno é um lugar de trevas e de destruição (Mt 8,12; 25,46) preparado para o Diabo e seus anjos (Mt 25,41). É o lugar de experiência da “completa ausência” de Deus (IITs 1,9). Enquanto o céu é o lugar da vida eterna, o inferno o da morte eterna (Ap 21,8).     
             No céu, os salvos por Cristo Jesus adorarão a Deus em todo o tempo. Por isso, a expectativa pela vinda de Cristo é o consolo e a esperança de todo o crente: Maranata Vem, Senhor Jesus.




[1] ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática. 1997,  p. 492ss.

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